Adão de Souza
Ribeiro
Há dentro de nós, desde que
nascemos dois seres antagônicos.
Por terem personalidades próprias,
vivem em eterno conflito, buscando cada um a seu modo, demarcar o território e
impor seus gostos e suas ideias. Numa luta desenfreada, sem visão futura de
conciliação, ferem-se e se magoam, como se não houvesse uma solução de paz
entre si.
Um desses seres é responsável
pelas grandes tragédias, que assolam a humanidade, desde o início da criação. É
implacável nas suas decisões, não se importando com o resultado pernicioso de
suas ações. Pela sua mão, nações foram dizimadas, animais extintos, inocentes
padeceram em cadafalsos, o pecado faz-se presente, a corrupção ganhou forma,
etc e tal.
Já o outro ser, aparentando
fragilidade, faz com que pela sua mão, o mundo seja mais belo, as pessoas mais
compreensivas, a natureza menos sombria. Este age pela emoção e poucas vezes
pela razão. Embora seja taxado como ingênuo, carrega sobre seus ombros, a
responsabilidade de uma vida repleta de felicidade, para os homens e para a
natureza.
Enquanto eles se digladiam dentro
de nós, feitos leões bravios, na arena da incompreensão, sofremos demasiadamente.
Longas noites de pesadelos fazem com que percamos noção do tempo e do espaço.
Somos apenas marionetes nas mãos do desconhecido, frágeis seres em busca da
perfeição.
Se nascermos com livre arbítrio,
para decidirmos sobre nossos destinos, que façamos à luz da razão. Que as
colunas da sabedoria, da força e da beleza, protejam-nos com suas bases
seculares e não nos deixem cair nas garras das tentações mundanas! O sol que
nasce no oriente, conduza-nos para o desenvolvimento do espírito e da alma. O
olho que tudo vê, não há de nos perder de vista.
Não devemos temer os desafios
impostos pela vida, nem os despenhadeiros existentes nos caminhos do futuro.
Vencer as paixões, fruto da alma e enaltecer a beleza, vinda do coração, faz
com que sentimo-nos mais leves, mais humanos e eternos. A imortalidade da alma
é fruto da compreensão humana. Por isso, os dois seres que habitam dentro de
nós, devem ser amainados e conduzidos pelas veredas do amor e da justiça.
É certo que um gerou sucessores,
tais como a inveja, usura, ganância, mentira, gula, ódio, pecado, violência e
toda sorte de mazela; já o outro, benevolência, amor, paz, verdade, sonho,
felicidade e tudo que possa redundar em prosperidade para o homem e para a
humanidade. Estes dois seres, de que tanto falamos, são o vício e a virtude.
Ao final, no silêncio do nosso “eu”,
devemos indagar: “Qual dos dois seres, há de ser sacrificado na arena da paz interior,
para que possamos desfrutar do prazer de ver a beleza do rosto do Grande Arquiteto
do Universo?”. Cremos que a resposta é o maior segredo, que cada um de
nós guardaremos sob sete chaves, no fundo do nosso coração.
Peruíbe SP, 22
de março de 2006.
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