quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

COLO QUE AFAGA


Adão de Souza Ribeiro


Tu embalaste-me no manso colo,
Afugentando horrendo pesadelo.
Se hoje não afagas o meu cabelo,
Emburrado num canto, eu choro.


E as madrugadas mal dormidas,
Que passavas ao lado do berço.
Na mão, orava um longo terço.
Corpo curvado, alma carcomida.


Nas noites de grande tormenta
Debaixo das asas me escondia.
E até que amanhecesse o dia,
Entoavas a canção sonolenta.


Eu menino ativo e tão serelepe
Se machucava, tinha o mastruz.
Rezava quieta, ao menino Jesus,
Para a cura deste filho moleque.


Nunca se importava com a lida
Do dia-a-dia daquela tua casa,
Pois para ti, tua casa era a asa,
Que me protegia em tua vida.


O tempo se foi entre os dedos
Na velocidade assim tão louca.
Ao ouvir tua voz lenta e rouca,
Sei que quer contar segredos.


A tua santidade vai muito além,
Do que está neste nosso plano.
Ao te ver assim, não me engano.
Hoje tu pedes um colo também.


Peruíbe SP, 26 de fevereiro de 2020.

Um comentário:

Andrea Callado disse...

👏👏👏👏👏👏