Adão de Souza Ribeiro
De repente tudo pára e a vida começa do zero.
Agora sentado na cadeira do tempo, a mente pergunta: “Pra que tanta pressa... tanta
correria?” O carro luxuoso, a roupa de grife, a festa pomposa, o lugar
paradisíaco, a beleza humana estonteante, a conta bancária recheada, o amor de
infância, a velha profissão e a autoridade, ficaram para trás. Agora só fica à
expectativa, de por quanto tempo o corpo vai resistir às lambadas do
sofrimento.
Tempos antes, ele (corpo) alertara que já
estava saturado das minhas irresponsabilidades e dos flagelos a que era
submetido. Por muitas vezes cochichara aos meus ouvidos; dizendo: “Não ingira
tanta bebida alcoólica, não. Esta carne gordurosa faz mal. Vá dormir, porque
tem que trabalhar cedo. Sexo é bom, mas contenha-se”. E eu fazendo
ouvido de mercador. Displicente e teimoso como sempre. O corpo submisso,
aceitava tudo com resignação. Não imaginava que, um dia, pagaria caro por não
ouvir tais conselhos.
Numa bela tarde de domingo praiano, depois de
um suculento almoço e estando ao chuveiro, o corpo disse: “É hoje. Eu te peguei”. Como
se fosse uma descarga elétrica, atingindo o lado esquerdo, neutralizou-me de
vez. A partir dali, passei obedecer às ordens dele. O cérebro autoritário,
disse ao corpo: “Eis-me aqui, meu amo!”. A partir de então, aparelhos de
tecnologia avançada, agulhadas para lá e para cá, trânsito congestionado da
equipe médica ao derredor leito e por aí se vai. Tudo desnecessário se tivesse
escutado os sábios conselhos. Paciência!
Gestos simples e despercebidos, como por
exemplo, segurar um copo, passaram a ter grande valia. É a vida, ensinando ás
duras pena. Num giro de trezentos e sessenta graus e com um novo caminho a
percorrer, temos que reinventar a história do nosso destino. O corpo padece,
diante da nossa rebeldia; a alma atravessa um calvário, que não era dela. Agora
temos que buscar o atalho da sobrevivência.
O destino deu o puxão de orelha. A
prepotência fez-me enxergar a transitoriedade da vida e a fragilidade da carne.
Foi então, que entendi a frase do poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade, quando
afirmou: “A vida tem a forma breve de um coice”. O coice da vida é a
morte. A nossa passagem por aqui é muito rápida, por isso, não dá para ficar
com picuinhas e lengalengas.
Quer um conselho? Você deve guardar no baú da
memória, as eternas lembranças do passado e as marcas indeléveis deixadas no
coração das pessoas que lhe cercam. O amor de infância que não desabrochou,
amor não era. O poema incubado é natimorto, não corra atrás, porque não dá
tempo. Aprenda que o momento é agora e
não reserve nada para amanhã. Gaste suas horas com o que te faz bem e não se
prenda ás opiniões alheias. Só você é dono e tem o dom de mudar seu próprio
destino.
Mas quando vejo o meu corpo tristonho, penso
e repenso os momentos antes, da vida pregar a peça. Os passos lentos pela casa
cessaram minha pressa e os passos longos, por onde andam, não sei. Os amigos
das longas noites de orgias, bateram em retirada. O padre recolheu o rosário e
o pastor fechou a bíblia, mas Deus não se desgarrara de mim, A cada segundo, Deus
sussurra aos meus ouvidos, dizendo: “Sê forte, porque sou contigo”. No
silêncio do quarto, Ele aproxima-se da cama, ouve meu clamor e acaricia o meu
rosto. Antes de voltar ao céu, conforta-me, dizendo: “Filho, tu és minha joia preciosa
e em ti, me comprazo”.
Deus me deu um dom e vou honrá-lo. Estou
certo de que o corpo vai me perdoar por tamanha afronta. Sou brasileiro e não
desisto nunca. Vou seguir o otimismo do escritor Johannes Mario Simmel, quando escreveu
o livro intitulado: “Ainda resta uma esperança”. Não posso desanimar e, por
isso , lembro de Sidnei Sheldon, quando escreveu o livro “Se houver amanhã”. Lembro-me
que a equipe médica, do Hospital do Servidor Público de São Paulo, diagnosticou-me,
no laudo: “Acometido de A.V.C.”.
Como sou leigo e, ao invés de cursar medicina,
estudei medesquina (Medir Esquina - vagabundar), li e entendi: “Adão Vê se Cuida”.
Acordei da sedação dos medicamentos. Nossa, pensei que foi um sonho!
Agora vou escutar todos os conselhos, mesmo
que seja de um papagaio.
Um comentário:
Nossa...forte e profundo, mas necessario a todos os ouvidos.
A parte reconfortante...Deus esta contigo!
Um grande abraço, meu amigo.
Se recupere, logo!
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