terça-feira, 22 de setembro de 2009

A MORTE DO POETA

O poeta morreu
Morreu o poeta.
Não houve pezares
Não houve festa:
Apenas silêncio.
O moreno lábio
O lábio moreno.
Ainda declama o verso,
Nas noites de sereno,
Num sonho à beira-mar.
A estrofe inseparável
A inseparável estrofe.
Alí, ao lado do ataúde,
Diz: A pureza nunca morre,
Para quem sempre amou.
O corpo cansado
O cansado corpo.
Sob a campa fria
Diz que o poema moço
Não morreu, encantou-se.
É certa, irmão, a tarde
A tarde, irmão, é certa.
Se, na terra, fecham a porta.
Há sempre uma porta aberta
No céu.
Dorme o menestrel,
Sob o manto do poema.
E lá, no leito do céu,
Os anjos cantam
Hinos de amor.
O poeta morreu
Morreu o poeta.
Mas morreu de que?
De tédio,
De alegria
Ou de dores colaterais?
Não!...
Morreu o poeta
De tanto fazer poesia.
Para que, um dia,
O mundo pudesse
Sonhar mais.

Campinas SP, 17 de junho de 1982

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