Adão de Souza
Ribeiro
Por muito tempo, correu um boato de que o
Príncipe das Arábias, cansado das mesmices do reino, decidiu perambular pelo
planeta. Pediu permissão ao Rei Mustafá, seu pai, colocou uma alpercata nos
pés, uma porchete na cintura, um óculos ray-ban nos olhos, calça e camisa de
algodão e um punhado de réis no bolso. “Não
sei o que se passa na cabeça desse menino”, pensou o monarca.
Não me pergunte como, o menino rebelde foi
parar lá na minha Terrinha. Com toda sua dinheirama, podia conhecer o Museu do Louvre,
em Paris; as muralhas da China, os jardins suspensos da Babilônia, em Eufrates;
a estátua da Liberdade, em New York, mas, não, foi conhecer a Sagrada Terrinha.
Naquele tempo, não havia Wase, GPS e nem o Google.
Bem, isso não importa, mas, sim, que estava
na Terrinha. Travestido de cidadão comum, passou despercebido entre os
conterrâneos. Ele tomou cachaça no bar do Anami, do Iwai, do Mori, do Toshio e
do Valenciano. Durante a agradável estadia, pernoitava na pensão da Rua Ruy
Barbosa. Aos poucos conquistou a
simpatia de todos.
Sem perceber, ele foi se abrasileirando, ou
melhor, se acaipirando. Nas tardes preguiçosas de domingo, assistia um jogo de futebol
no campo, atrás da Delegacia de Polícia e à noite, passeava no jardim da Praça
Matriz. Ele trocou o luxo palaciano, pelas coisas simples do lugarejo. Aquilo
lhe fazia tão bem.
Causava estranheza o jeito de andar, vestir e
falar, mas as pessoas eram humildes e discretas, por isso, não o questionavam sobre
sua origem. Ele tinha a fantasia de ser
pobre, sem ter ao seu lado, os costumeiros bajuladores. Para ele, o pobre era
mais sincero e, ao que parece, não se enganou.
O Príncipe das Arábias se encantou com a comida,
a dança, a música e os costumes do lugarejo. A dança do ventre, deu lugar ao
catira; o estilo musical waslat, deu lugar ao sertanejo, a comida babaganuche
foi trocada pela feijoada. Pelo que se vê, a Terrinha tornou seu reino, isto é,
o Reino Encantado Tupiniquim.
Para ele, as pessoas serem conhecidas por
apelido, soava engraçado. Não demorou muito e ele recebeu um, ou seja, o “brimo
Habib”. Como o lugar era pequeno e todos se conheciam, o recém-chegado em suas
andanças, não por acaso, acabou conhecendo a Casa das Primas. Elas se abrigavam
em casas de madeira e não em suntuosas mansões, como se esperava. Ganhou delas, um agradinho sexual.
Quando deixou o castelo real, para se
aventurar pelo mundo dos desvalidos, comprometeu-se com seu pai, que não
demoraria. Ao que parece, não foi o que aconteceu. Muita coisa o prendia ali,
tais como: pescar tilápias e dourado no açude do Ademir; caçar codorna e
capivara, nas matas circunvizinhas e em companhia do Sabino; ordenhar as vacas,
no sítio do Hermininho. Tudo aquilo, encantava-o por demais.
A vida no reino, era enfadonha e ali, na
Terrinha, não tinha compromissos oficiais e nem paparazzi no seu calcanhar. A
vida é uma caixinha de surpresa. Um belo dia, o “brimo Habib” foi laçado pelo
coração. Num dos passeios pela Praça Matriz, engraçou-se pela menina Euflosina,
uma fogosa mulata e filha de um comerciante.
O rei Mustafá, genitor do “brimo Habib”,
enviava mensalmente, dinheiro a ele e era um valor apenas para sua
sobrevivência. Não se sabe ao certo, se o flerte se vingou. Embora o menino
fosse muito atraente, por ser uma mulher recatada, ela não queria ficar malvista
e mal falada diante dos conterrâneos. Afinal de contas, pouco se sabia sobre a
origem e a família do pretendente a ser seu dono e seu consorte.
Meu Deus, mal sabia ela, que o casamento com “brimo
Habib”, seria melhor do que ganhar sozinha na mega sena. Durante o tempo que
ele habitou na Sagrada Terrinha, ninguém sabia ou desconfiava, que ele era herdeiro
do Reino das Arábias. Só eu, é claro! Se não soubesse, não estaria contando
este causo aos assíduos leitores.
Hoje, posso dizer sem medo de errar, que um Príncipe
Real, de sangue nobre, passou por aqui, na minha Sagrada Terrinha, ou melhor,
pelo Reino Encantado Tupiniquim.
God save our Prince! (Deus salve nosso Príncipe).
Peruíbe SP, 20 de
outubro de 2023.
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