“Fé e dor de dente, só quem tem sabe o tamanho”, assim dizia o meu
conterrâneo Jeremias – O Pensador. “Mas o
que é a fé?”, alguém há de gritar no meio da multidão. No grego pistia,
indica a noção de acreditar; no latim fides, que remete a uma atitude de
fidelidade.
A fé é um sentimento de total crença em algo
ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo de evidência que comprove a
veracidade da proposição em causa. Uma das frases sobre o tema, afirma que “a
fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não
se veem”. (Hebreus 11:1)
Como diz o adágio popular: “Gosto, religião e futebol não se discute.”
Portanto, reservo-me aqui, a prender sobre um assunto ocorrido no meu berço
natal e pequeno pedaço de chão, que eu amo tanto. O tempo se vai ao longe, porém
não se apaga jamais da minha eterna memória, o que pretendo narrar.
Já narrei em “O Rebu no Altar”, sobre o
desmoronamento repentino, das tradições religiosas, provocado por um vigário,
que de padre só tinha a batina. Outro dia, numa visita à terra natal, meu
coração suplicou e adentrei na igreja. A principio hesitei-me, com medo do eu
podia me deparar. Mas passei pelo umbral e entrei.
Entristeci-me, pois senti que aquele
santuário que, por longos anos, acolheu a padroeira, perdeu todo o encanto.
Apenas tornou-se um salão sem a energia do Altíssimo. Repentinamente veio a lembrança de que ali, fui
batizado e crismado. Por favor, perdoa-me tamanha heresia!
Cada religião cria seus dogmas e professam
suas liturgias, creio. Com o fim do altar e das imagens dos santos, que davam
um ar sacrossanto à igreja; eis que meia dúzia de beatas sacramentadas deram
guaridas às imagens, em tamanhos normais, em seus lares. Em razão da grande
devoção, cuidavam com fé, amor e zelo. A nova e abençoada moradora (imagem),
tinha um lugar especial na casa, ou melhor, um altar.
Todos os dias, a anfitriã além de limpar,
trocava as flores e as velas. Ao cair da tarde, rezava-se o pai-nosso e a
ave-maria. A imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do lugar, foi
acolhida pela fervorosa beata Celestina, dona de uma fé inabalável na santa. Uma
casa de madeira, toda de branco, o quintal cuidado com muito amor, que era
protegida com balaústre de madeira.
Pela humildade e empatia, Celestina conquistara
o carinho de todos. Da sala de aula, eu conseguia visualizar a casa dela. Um
belo dia, ainda de manhã, próximo ao término das aulas matutinas, percebeu-se o
início de uma lavareda de fogo na casa. Em minutos, ouviam-se os gritos e
corre-corre dos vizinhos para salvar o único patrimônio (casa) da fervorosa
beata, querida por todos.
Por ser de madeira, nada pode ser feito para
salvá-la. Não havia Corpo de Bombeiro e os baldes d’água foram insuficientes. De
longe se ouvia o estralar das madeiras em meio às chamas. De repente, da casa
só restou cinzas e brasas, pois, em pouco tempo, tudo foi ao solo. Queimou-se a
história de Celestina, pois, além da casa, ficou sem suas roupas e documentos.
Ela chorava copiosamente, sendo amparada por outras beatas e pessoas que lhe queriam bem.
Causou espanto e as pessoas ficaram
boquiabertas, quando viram que a santa permanecera intacta, uma vez que nem
mesmo a fuligem tocara nela. “Meu
Santíssimo Pai Eterno! Deus se louvado! Isso foi um milagre! Quem disse que a
imagem não é sagrada?”, diziam todas as beatas juramentadas ali reunidas,
em consolo a Celestina.
A população comentava que a dona da casa
saíra pra comprar legumes e verduras na “Quitanda do Josias” e deixara as velas
acesas. Acreditavam ser aquilo que provocou a tragédia. Em um mês ergueu-se uma
nova moradia, desta feita de alvenaria. Os conterrâneos pareciam formiguinhas
no eterno labor de reconstruir o santuário, ou melhor, a casa da fervorosa
beata Celestina.
Em lugares pequenos, o povo é muito unido,
creia. A partir daquele dia trágico, o local passou a ser visitado por todos,
inclusive, criou-se uma romaria de pessoas vindas dos quatro cantos da terra. A
palavra “milagre” atraiu os verdadeiros fiéis de Deus. Eu sei que tal fato, aumentou
o respeito e admiração à imagem da santa.
Diariamente uma multidão de devotos ali,
enquanto que na igreja, o padre amargava o abandono junto com sua modernidade. O
vigário quis avançar em rituais futuros, mas regrediu nos rituais da fé. Até
hoje, ao se falar da minha terra natal, as pessoas dizem: “Foi onde aconteceu o milagre da
Santa.” Amém!
Peruíbe SP, 18
de setembro de 2021.
2 comentários:
Adorei o milagre da Santa ! Voce e um Grande escritor ou como diria em Minas " contador de causos"
Muito Bonito a história prende muito a atenção da pessoa que a lê, de fato Adão você é um bom escritor de muito talento, parabéns !!
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