Adão de Souza
Ribeiro
Um corpo franzino, estatura
mediana, cabelos crespos, rosto delicado, olhos miúdos, mãos carinhosas e andar
cadenciado, eis, aí, os traços de uma heroína anônima. Transita garbosamente
pela casa, pelo quintal e pelo mundo, sem ser notada. Não ostenta qualquer tipo
de adereço, a não ser o divino orgulho de ser mãe. Diante de tanto sacrifício,
nada pede em troca; mas em troca do olhar angelical do filho no berço, se entrega
por completa.
Por quantas madrugadas frias,
enquanto todos dormiam, inclusive, o esposo, ela levantava para cobrir os
filhos ou dar remédios caseiros, para curar doenças infantis. Velava o sono,
daqueles que foram gerados em seu ventre, para que os espectros da noite, não
os amedrontassem ou espantassem os seus sonhos angelicais. Nada havia de mais
belo, do que vê-la sentada à beira da cama, com o terço na mão, em longas
orações repetitivas, clamando por cura e por paz, daqueles que tanto ama. Mãe é
algo que não se descreve, apenas sente.
Antes do alvorecer lá esta ela a
preparar o café matinal. Acorda os filhos com delicadeza e os prepara para irem
ao grupo escolar. Orgulha de vê-los uniformizados e, do portão de madeira,
cuida com seus olhos, até eles desparecerem na esquina. Enquanto eles estão na
escola, ela cuida dos afazeres domésticos, para que, quando ao chegarem
famintos, os pratos estejam prontos à mesa.
Conhece na palma da mão, os
costumes e os gostos de cada um. Por conhecê-los amiúde, lida tranquilamente com
suas personalidades. Sabe acariciar, quando precisam de chamego, mas, também,
não poupa puxões de orelhas, quando fazem por merecer, diante de uma
traquinagem ou malcriação. Sabe corrigir na medida certa. Lança mão de um ramo
de margoso. É correção e não tortura. Em futuros não muito distantes, eles
guardarão doces lembranças do ensinamento com amor.
Uma heroína, num corpo mirrado,
mas que tem a força e a coragem de uma leoa, quando precisa defender seus
filhotes. Luta contra os monstros, os quais, fora do seu território, queiram
devorar ou subestimar o valor que os filhos têm, no seu coração materno. Quantas
vezes surpreendi aquela mulher calada num canto, preocupada com o futuro de
seus rebentos. Outras vezes, chorando por saber que um dia, por força da
natureza irá partir para a mansão do amanhã e terá que deixa-los à mercê da
sorte.
Sem
perceber que o tempo foge pelos dedos, ela se anula em busca do bem estar de
cada um deles. O peso da responsabilidade materna curava-lhe as costas e
abrevia os seus anos de vida. Mas nada disso importa e nem a amedronta. Para
ela, a eternidade não se conta na folhinha pendurada na parede, mas, sim, na
honra de vê-los crescidos e formados doutores. Saber que lhes darão netos,
bisnetos e tataranetos.
Mãe é algo que não se descreve, se
sente. No percurso íngreme de sua missão, pode ser surpreendida por doenças traiçoeiras,
tais como, Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla e tantos outros males
impiedosos. E então, sem percebermos, lá estamos nós a cuidar dela, com todo
carinho, como nos cuidou por longos e longos anos, sem nada pedir em troca.
Hoje, como no inicio de nossas vidas, ela caminha para lá e para cá, em passos
cadenciados. Ao invés de seus olhos clamarem por piedade, eles transbordam de felicidades,
por saberem que aquele corpo franzino, abriga uma heroína anônima, que se
orgulha de ser mulher, esposa e mãe.
Por isso, todas às vezes, que
caminho pelas ruas apressadas desse mundo distante da minha cidadezinha
interiorana e deparo-me com mulheres mirradas e desprovidas de vaidade,
reporto-me a imagem divina e doce de minha mãe. Vejo nelas, a mulher guerreira,
a leoa que ainda defende de unhas e dentes os seus filhos já crescidos e
desmamados. E que, embora crescidos e desmamados, não se distanciam do colo macio
e dos seios sempre prontos para darem vidas aos meus sonhos e de meus irmãos.
Mãe é algo que não se descreve, apenas sente. A minha heroína tem nome, chama-se Olindrina. A ela me rendo e
peço a sua benção!
Peruíbe SP, 12 de
maio de 2019.
Um comentário:
Sábias palavras ❤
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