sábado, 27 de fevereiro de 2010

O ANJO DA GUARDA

Eu tenho um anjo, que gosta muito de mim.
Quando estou triste, assim de fazer dó, ele senta ao meu lado, conta lindas histórias infantis e, enquanto não vê um sorriso nos meus lábios, não sai de perto de mim.
Se estou cansado da vida, pela luta desenfreada do cotidiano, coloca-me no colo e com a mão abençoada, acaricia meu rosto, para que eu compreenda que não estou só.
Mas quando vê que estou alegre, numa felicidade sem fim, segura na minha mão e num bailar transcedental, desperta em mim o prazer de sonhar.
Ele é paciente, pois quando me vê irritado, traz um chazinho caseiro e me dá longos conselhos, de como vencer as procelas da vida.
Nas noites de insônia e de pesadelo, fica acordado, velando meu sono, a espantar os espectros que atormentam o meu precioso descanso noturno.
Antes de conhecer meu anjo, pensava que a vida era um imenso despenhadeiro e o futuro um horizonte inatingível. A estrada do amanhã, era tortuosa e íngreme e, ainda, que faltava aos meus pés, força para vencê-la passo-a-passo. Hoje, não é mais assim!
Outro dia, ao contemplar a imensidão do céu, vi meu anjo revestido de uma candura impar e de uma luz tão penetrante, como a flecha do cupido, atravessando o coração apaixonado. Era poética a viagem dele, no céu da minha ilusão.
De vez em quando, vejo-me ansioso por temer que ele vá embora e me deixe abandonado pelas ruas da solidão. O coração dispara, dá-me um calafrio e perco a noção do tempo. Mas bata ouvir a voz adocicada dele, para que a vida volte ao normal.
Nunca é demais dizer: “Eu tenho um anjo bom, que gosta muito de mim”.
É gostoso ouvir o meu anjo falar. Tem firmeza, quando me dá conselhos; paz, quando faz-me entender a diferença entre o em e o mal; carinho, quando banha-me de prazer, no mar da entrega total; vidência, quando diz-me que o tempo reserva mistérios preciosos a quem acredita na felicidade. Meu anjo é isso: uma mistura de realidade e fantasia.
Na tenra infância, sonhava com ele e acreditava que fosse apenas uma quimera. Com o pincel da inocência, desenhava-o no quadro vivo da imaginação. Um dia, descobri que ele não tinha forma, pois tinha a dimensão da imortalidade.
Gosto dele, porque tem a sabedoria do tempo, a humildade da natureza, o brilho do sol, a beleza da primavera, a paz do crepúsculo, a sensibilidade do vento, a longevidade dos anos, o sorriso inocente de criança, a firmeza da rocha milenar e, acima de tudo, a esperança de quem acredita no amanhã.
Estava desacreditado de tudo e de todos, quando Deus na sua divina bondade, presenteou-me com um anjo bom, compreensivo e carinhoso. Com ele, aprendi a suportar o peso da cruz e a ver que a dor nada mais é do que ume estado de espírito. Meu anjo é muito bom, que ninguém duvide disso.
Tenho feito de tudo para agradar o meu anjo. Faço versos, conto histórias, afago seus cabelos, beijo-lhe o rosto, não deixo suas lágrimas caírem, protege-o dos vendavais da desilusão, abraço-o com ternura, para que sinta que não está só. O meu anjo, muitas vezes, sente-se tão frágil quanto eu. Preciso do calor dele e de do meu.
Aprendi com ele, a redescobrir os valores da vida. Se hoje, tudo faz sentido, é graças ao toque de magia, que ele deu na minha existência e na minha breve passagem por este planeta.
Mostra-se rebelde, por causa das feridas provocadas pela ingratidão da vida. Com paciência procuro ajudá-lo, mas ele insiste em ignorar a sinceridade do meu coração. O amor tudo sofre, suporta e crê.
Dizem que os anjos não têm forma, sexo ou nome. Mas o meu anjo tem um nome... Ah, já sei, ele chama-se MULHER.

Bauru SP, 03 de fevereiro de 2004

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