sábado, 27 de fevereiro de 2010

FIM DOS TEMPOS


Lembro que ainda na infância, ouvia das pessoas mais antigas, que o mundo iria acabar em fogo. No balanço suave da minha inocência, não entendia como as pessoas sabiam das coisas que iriam acontecer no futuro. Pensava comigo: “Isso não passa de devaneios”. Mas, ao mesmo tempo, deixava preocupado. “Já pensou aquela labareda, aquela língua de fogo, surgindo por detrás do morro e devorando tudo que encontrava pela frente?”, pensava assim comigo
Tinha por gosto, isso faz parte do meu perfil, estar entre as pessoas mais velhas, ouvir suas histórias e beber dos seus conhecimentos. Ficava encantado com as lendas contadas por eles, coisas que passavam de pai para filho. Mas essa história de que o mundo iria acabar com fogo, tirava minhas noites de sono. Será que eram histórias contadas apenas para nos amedrontar, como as histórias de assombração?
Não podemos esquecer que o primeiro fim do mundo, foi com água. Já pensou a agonia de Noé, vendo a água subindo e devorando tudo. Só teve tempo de recolher um par de cada espécie. Não deu tempo de recolher as fotos da família e nem pedir desculpas aos amigos dos maus entendidos. De repente, desapareceu o pico da última montanha e percebeu que a terra era só mar. Nem aves, nem plantas, nem nada.
Mas o tempo passou e eu cresci. Vi que o mundo continuava do mesmo jeito. É, pelo jeito tudo não passava de devaneios das pessoas antigas da minha pequena cidade interiorana. Vi a chegada dos carros modernos, sem esquecer do advento das viagens interplanetárias, da Internet, da cura de doença misteriosas. Em eu pese o mundo continuar o mesmo, de vez em quando, voltava na memória a história o mundo acabando em fogo.
Nos bancos escolares, fiquei sabendo que cientistas – pessoas que fica estudando as coisas -, diziam que o mundo estava agonizando. Lá vinha de novo a história do mundo acabando em fogo. Não conseguia entender, porque Deus sendo um ser tão bondoso, que nos deu tudo sem pedir nada em troca, iria acabar com a terra e nos jogar num tacho quente, queimando em brasas.
Em assim, entre perguntas sem respostas e, também, com a mente povoada de histórias da infância, atravessei o segundo milênio. Ao que parece, são e salvo. Se um dia o mundo realmente acabar em fogo, talvez eu não esteja mais vivo. Não devo ficar me preocupando e perder noites de sono, por causa das histórias das pessoas antigas e sem cultura, criadores de lenda.
Hoje, por mais que eu queira taxar de incultas, as pessoas da minha infância, devo admitir que elas tinham razão. Não é que uma labareda impiedosa, feito a língua de um dragão, vai surgir detrás do morro e nos devorar. Na realidade, o fogo é o aquecimento global, fruto da ganância humana e do desrespeito à natureza. É um fogo que vai queimando aos poucos e sem pressa de ver o fim de tudo.
Desta vez, não haverá arca e nem mesmo naves interplanetárias para transportar um par de cada espécie. Já há muito tempo, venho observando a escassez de alimentos e frutas fora de época. As catástrofes são provas de que estamos próximo do fim e que pouco tempo nos resta para tentar salvar o planeta. Não adianta querermos culpar o Grande Arquiteto do Universo e nem a natureza. Culpados somos nós; culpado fui eu por não acreditar nas histórias das pessoas antigas da minha pequena cidade interiorana.
Quem não está mais aqui, para ver suas profecias serem cumpridas, são eles. Eu estou aqui e vou testemunhar tudo o que me disseram e compreender que não me contaram uma lenda ou uma história de assombração. Na realidade, queriam alertar-me que era preciso fazer algo para salvar o planeta, antes que fosse tarde. Agora, é tarde demais.

Peruíbe SP, 04 de fevereiro e 2007

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