sábado, 27 de fevereiro de 2010

A COLHEITA

Aprendi desde a tenra idade, que há tempo para plantar e tempo para colher. Já naquela época, descobri que as fases da lua e as estações do ano exercem uma influência sobre a natureza e, em especial, nas plantações. Juntem-se a essa ciência caipira, a qualidade da terra a e forma de plantio. Qualquer descuido, o prejuízo é certo.
O tempo do plantio é árduo e exige persistência. A qualidade da muda, a formação das leras, o adubo, os insumos, os fungicidas e os pesticidas, a capinação, são detalhes que enriquecem a lida diária de que espera uma boa colheita. De sol a sol, o agricultor tece de esperança o futuro daquilo que sonha realizar.
As secas e as geadas, rondam a plantação e atormentam o sono de quem vive uma quimera. Nada escapa aos olhos de quem zela e ama o labor. Não esmorece diante das dificuldades e das intempéries do dia-a-dia. O tempo de plantio é rude e não perdoa os que esmorecem ao longo do caminho. Se acreditar no sonho, fará uma boa colheita.
Já o tempo da colheita, é prazeiroso e nos enchem de alegria. Quem lutou, embriaga-se com o fruto de tanta luta. O lucro é representado pelo volume da produção e pelos dividendos bancários. O parto da terra, traz abundância aos que nela buscam alento. Todos se regozijam do que se aflora dela. Não há como não cantar e não dançar a melodia da fartura.
O que difere esse tempo do outro, é a certeza de que valeu a pena acreditar. As dúvidas e as angústias, ficaram para trás. O cansaço e o desespero, não passam de um quadro pendurado na parede. Tudo é sonho, tudo é poesia. A tristeza ficou da porta para fora. O mundo gira em torno da alegria e da realização plena de quem lutou e venceu. De quem não fraquejou no meio do caminho.
Mas é preciso lembrar, que se não colher a tempo o fruto produzido, corre-se o risco de perdê-lo. A natureza encarrega-se de apodrecê-lo. Os pássaros famintos e os insetos, vem devorá-los sem piedade. Quando é chegada a hora, desprende-se do galho e a terra beijá-lhe a face. Após secar, a semente faz gerar uma nova planta. Esse é o ciclo natural da vida. Não há tempo de espera, porque ele urge e ruge.
O amor, sentimento mais nobre do ser humano, também tem o seu ciclo. Nele, há tempo para plantar e para colher. De nada adianta uma luta insana para germiná-lo e desenvolvê-lo se, quando da colheita, não o apanharmos no tempo certo. Não há que temer os conceitos e preconceitos da vida; assim como no fruto, não há que temer o apodrecimento ou os pássaros famintos.
Uma vez passado o tempo da colheita, não há que se reclamar do prejuízo causado ao coração e a alma. É certo que o relógio da vida não volta no tempo. Por isso, temos que ser zelosos na vigília, para não ficarmos debruçados na inércia de nossas ações e nem escondidos atrás de justificativas não convincentes. Depois de perdida a oportunidade, não podemos culpar a pessoa amada, pela nossa infelicidade ou pelas nossas frustrações.
Não devemos em hipótese alguma, adiarmos o instante do prazer pelo qual tanto sonhamos. Uma vez ao alcance de nossas mãos, não devemos deixar escapar por entre os dedos. Devemos aprender com a natureza: “Há tempo para plantar e há tempo para colher”.
Peruíbe SP, 20 de setembro de 2006
00:35 horas

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