Adão de Souza
Ribeiro
Minha mãe acordou bem cedo, para cuidar da
casa. Meu pai também acordou bem cedo, se arrumou e foi para a roça, cuidar da
lavoura. Já nós, seus filhos, dormimos um pouco mais e, ao acordar, fomos
brincar de criança. A natureza acordou junto com meus pais, a fim de preparar um
dia maravilhoso para nós.
Lá na rua da minha casa, seu Alfredo abriu a porta
do comércio, para receber os assíduos clientes. Já de manhã, no jardim da praça matriz,
o “seu” Caga-Sebo foi molhar as flores, antes do sol nascer. Dona Quitéria,
nossa amável vizinha, madrugou para dar milho as galinhas e lavagem para os
porcos. Da cama, podíamos ouvir o cacarejo das galinhas em festa.
Do alto do abacateiro, um bando de canários,
cantavam a linda canção do amanhecer. O meu irmão caçula, ainda bebê,
choramingou no berço, pedindo mamadeira e minha mamãe, prontamente o atendeu.
Não demorou muito, para que nossa mamãe nos convidasse a levantar, pois a
obrigação escolar batia à porta do quarto.
Enquanto nos preparávamos para ir à escola, a
linda professora organizava o material didático, para ministrar a aula. Os
meninos e meninas, assim como eu, só pensávamos os momentos de descontração,
depois das aulas, no Grupo Escolar “José Belmiro Rocha”. Os coleguinhas
enfeitavam as tardes, com suas incansáveis travessuras.
Lá na roça, meu pai capinava o cafezal,
colocava veneno contra as formigas saúvas, ordenhava as vacas no curral, organizava
os sacos de milho no paiol, dava banho e escovava o “Chá Preto” – o cavalo
manga larga. Enquanto isso, minha mãe varria a casa, lavava a roupa, limpava os
móveis e fazia a comida no fogão a lenha. Era tantos afazeres que, na maioria
das vezes, não tinham tempo de se cuidarem.
De vez em quando, debruçado na janela da imaginação,
eu ficava pensando na mesmice da vida. Ela passava sem que percebêssemos e crescíamos
ao sabor do vento. Aos poucos, a vida ganhava um novo colorido. A rotina marcava
a vida, como um impiedoso ferrão. A medida que crescíamos, enxergávamos o
amanhecer, de um outro ângulo.
As meninas de corpo infantil, foi se
delineando e pegando gosto pela puberdade. O amor platônico, sem eu notar, embora
eu relutasse, foi se tornando mulher madura. E assim, foi se distanciando da
minha ilusão e fugindo da minha doce rotina. Digo isso, porque todas as manhãs,
tinha como rotina, vê-la desfilar suavemente pelas ruas do lugarejo.
Hoje, tem dias que pesaroso, pergunto: “ Por
que crescemos e envelhecemos? ”. A rotina da infância, era um manto sagrado, a
nos proteger das mazelas da vida. Às vezes me perco em pensamento, procurando
pelos meus pais, para que possam zelar pelo menino, que tem medo de envelhecer.
A rotina ensinava, que tínhamos a obrigação de sermos apenas felizes.
De novo, eu queria levantar de manhã e ver
meus pais já acordados e se preparando, para mais um dia de rotina. É cruel ver a
velha rotina da infância se perder entres os dedos da fria realidade do futuro.
Ah se eu tivesse o poder de mudar o tempo, voltaria a habitar na saudosa rotina
da infância!
Se para muitos era apenas mais um dia de
rotina; para mim, era a maior demonstração de zelo e de carinho dos meus pais,
para com os filhos!
Peruíbe SP, 05 de
maio de 2024.
Nenhum comentário:
Postar um comentário