sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O NÓ DA GRAVATA

Sou funcionário público. Isso basta, para que eu seja mal visto, pago e amado. Ninguém gosta desse profissional, salvo quando precisa dele e, na maioria das vezes, o povo nunca está satisfeito com o serviço prestado. O contibuinte reclama sempre do mau atendimento e dos entraves que a burocracia do Estado gera para a sociedade.
As repatrições públicas, são de fazer dó. Os móveis que guarnecem o ambiente, têm aparência de velhos e cansados. A iluminação precário, livros empoeirados, paredes mofas, falta de ventilação, fios expostos, ventiladores quebrados, completam o lugar, o que não atende as normas regulamentares de higiene e segurança do trabalho. è nesse habitat natural, oq ue funcionário público passa um terço do seu tempo.
O salário é um dilema à parte. O holerit mais parece um atestado de pobreza do que um comprovante de rendimento. A cada trinat dias, o servidor é cinetificado de que não passa de um mendigo oficial. Faz das tripas coração, para cumprir a sua obrigação social e está sempre penhorado no armazem, na loja e no boeco da esquina. lazer, nem pensar! A ele, resta apenas ouvir os lamentos da esposa e dos filhos e, ainda, os xingamentos do contribuinte insatisfeito.
Assim, entre trancos e barrancos, o servidor público vai cumprindo a sagrada missão de representar o Estado. Não adianta reclamar do salário e do ambiente de trabalho, pois o governo não dá ouvidos. Em nome do saneamento das conts públicas, enclausura o servidor no curral do abandono. É comum vermos um funcionário desdentado, esfarrapado ou esclerosado, caminhando solitário pelso corredores da repartição ou pelas ruas da aposentadoria. Ele não pode ficar doente e se isso acontecer, é considerado peça descartável pelo Estado, através de seus superiores hierárquicos. Assim como um animal velho e cansado, vai perecendo aos poucos.
Um dia, buscando melhorar a imagem do Estado e tentando resgatar a autoéstima do funcionário público, resolvi mudar o meu ambiente de trabalho e minha aparência pessoal. Inicialmente, às minhas expensas, adquiri móveis mais modernos e material de escritório )caneta, grampeador, furador, clips, grampos, pastas, erroex, etc). Fui numa loja e através de um sacrificado crediário, comprei alguns jogos de roupa social. Era desejo mudar o ambiente e, o que era mais importante, minahs aparência, pois, afinal de contas, era representante do Estado.
Ao apresentar-me de cabelo curto, rosto barbeado, unhas cuidadosamente aparadas, trajando calça e camisa social de manga comprida, gravata, sapato lustrosamente engraxado, com tudo combinado, causou espanto para uns e admiração para outros. O contribuinte passou a tratar-me com carinho e respeito, pois antes de abrirmos a boca, a primeira impressão é a roupa. Pasmem! Os meus superiores hierárquicos passaram a ficar enciumados, pois, na visão egoistas deles, ó os chefes podem trajar à rigor e, principalmente, usar gravata.
Os superiores, com o desejo velado de denegrirem a minha moral, pasaram a fazer comentários dolosos de que assim me comportava, a fim de extorquir o contribuinte, passando-me por chefe. Não tardou para que eu fosse chamado à sala do chefe, onde, após horas de conversas ed considereções desprovidas de fundamentos jurídicos, pediu para que eu não mais usasse a gravata. Fiquei estarrecido com aquela detrerminação e ferido no fundo da alma. Não quis acreditar que meu chefe, um homem esclarecido e formado nos bancos da faculdade, proferisse uma determinação tão exdruxula e absurda.
Indignado, pedi que fundamentasse por escrito aquela determinação, para que eu não usasse mais gravata. Eu, na minha santa inocência, não vislumbrava nenhum crime ou transgressão disciplinar, pelo fato de trajar-me bem. Em que pese a incompet~encia e o ciúme do meu superior, precisava valer-me dos meus direitos constitucuonais. naquele momento, engasgou, gaguejou e divagou e, justificativas vãs, pois sabia que estava sendo arbitrário e que feria o meu direito de funcionário e de cidadão brasileiro.
Ao invés de ver na minha mudança, uma acentuada melhoria na repartição, preocupou-se em satisfazer o seu ego pessoal. Acontece que os cehfes de órgãos públicos, gostam de ser estrelas e, também, dos holofotes da imprensa. A vaidade pessoal fala mais alto que a competência profissional. Almejam sempre o pedestal e os refletores, mas, nunca, a humildade do bem servir. Numa repartição pública, um dou dois funcionários públicos trabalham com amor e carregam os demans nas costas.
Continuei a vestir-me assim e tratar o público com educação e presteza, pois acreditava que os ideais de um homem, não poderiam ser violados por ordens absurdas e ilegais, pois a Carta Magna da Nação Brasileria é clara, quando diz: "Artigo 5º - Todos são igguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza... Inciso II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei". Posteriormente, recebi uma punição camuflada, sendo transferido de uma Unidade para outra, dentro do próprio município, sob a alegação de mudanças administrativas da Secretaria. Esquecem que o servidor é um funcionário do estado e não de um chefe, em particular.
Até hoje, o meu chefe continua com um nó na garganta; mas não, O NÓ DA GRAVATA.

Nenhum comentário: