segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A INFANCIA PERDIDA

Continua fresca na memória, a doce imagem de uma criança livre, leve e solta, brincando nas ruas tranquilas de Guaimbê SP. As casas modestas espiavam a inocência, de quem preocupação não tinha. As cercas divisórias das casas vizinhas, ora de arame farpado, ora de melão de são caetano, eram simbólicas; pois as brincadeiras infantis, não tinham limites. Desde o acordar até o dormir, o momento era quando.
De manhã, mamãe nos acordava e após um cafezinho simples, batíamos rumo ao grupo escolar. Sete irmãos, logo sete inseparáveis companheiros. Na escola, dedicadas professoras ensivavam caminhos a serem percorridos, em busca de quimeras. No recreio, hora tão esperada, corríamos para lá e para cá, ou sentávamos em grupinhos, para conversarmos conversas infantis. Se querelas haviam, tia Coquinha era a fiel da balança.
À noite, sob o luar sonolento, enquanto os adultos falavam coisas intelegíveis, meus irmãos e eu, juntávamos a um bando de crianças. As calçadas e ruas descalças, de mãos dadas com aquele batalhão de crianças, brincavam de esconde-esconde, amarelinha, cobra cega, feijão queimado, pula corda, passa anel, lenço atrás, escolinha, duro ou mole, queimada... De vez em quando, parávamos para ouvir longas histórias da vovó. E assim, a noite sem sono, esquecia de fazer silêncio, para as estrelas dormirem.
Passou-se o tempo... passamos pela infência de nossas vidas. Crescemos e nos dispersamos. Envelheceu o corpo, mas a mente continua inocente. A Divina Providência, preservou a simplicidade do meu coração. Com olhos de ternura, observo o mundo de hoje. Choro um chôro triste de fazer dó. A robotização e a massificação das crianças modernas, sufocam-me. Minha idéias ultrapassadas, não aceitam conceitos pré-estabelecidos.
Roupas extravagantes, conversas eróticas, consumismo exagerado, embalos noturnos, traição, rebeldias familiares, vicios massacrantes e ganâncias, eram assuntos de adultos. Uma malcriação, reprimia-se apenas com um olhar. Não tínhamos ainda a televisão, que atrevidamente invade os lares, infestam almas puras, com ensinamentos pecaminosos. Num país sem identidade, pobre de nós! Seguindo o modismo dos paises dominantes, sepultamos nossos costumes e tradições culturais.
Brinquedos eletrônicos, programas abusivos de televisão, desnacionalização da língua, hormônios na alimentação, culto demoníaco do corpo, quebra de conceitos tradicionais de moral e bom costume, liberdade sexual, falsa liberdade feminina, consumismo desenfreado, são alguns fatores visíveis, que assassinaram de forma covarde, a infância brasileira. Nossos filhos saem do sete para os quatorze anos, anulando a parte simplória da vida. Fica para trás, a infância perdida. É bom lembrar, que o relógio da vida, não volta no tempo.
Os jovens praticam crimes hediondos, contra a sociedade ou a família, porque deles surrupiaram as coisas belas, da fase mais importante de suas vidas. Teorias demagogas de psiquiatras, sociólogos, pedagogos, sociólogos, terapêutas e criminalistas, não resolvem o problema. Urge que se devolva aos nossos filhos, o direito universal de serem crianças, em toda sua plenitude. São deles, o direito de sonharem um sonho lindo, de fantasiarem a vida, de correrem pelos prados livres da inocência, sem as cercas pré-moldadas da exploração humana.
Deixe nossos rebentos voarem nas asas da imaginação. Correr pela enxurrada, em dia chuvoso; chupar manga, sentado no galho de árvore; caçar passarinho com estilingue; brincar de burquinha; biboquê; brincar de boneca, feita de espiga de milho, são diversões alegres e sadias. Tudo tem seu tempo e sua hora certa. Não devemos atropelar a sequência da vida. Perdido no tempo, o jovem rebela-se contra a vida. Dessa rebeldia, sofremos nós, a família e a sociedade. É certo que o divã e a cela, não resolverão os problemas e não devolverão o tempo perdido. Somos culpados por essa geração de monstros.
"Ah, que saudades que eu tenho/ Da aurora da minha vida/ Da minha infância querida/ Que os anos não trazem mais.", dizia o poeta.

Um comentário:

Unknown disse...

Lindo meu irmão, adorei. Continue sendo essa pessoa maravilhosa
Beijos
Selma