sábado, 29 de junho de 2024

VIDA VAZIA

 

Adão de Souza Ribeiro

Coração está partido,

O corpo já fragilizado.

Onde estão os amigos

Cadê o velho passado?

 

Olhos não veem beleza,

Ouvidos sem a audição,

Passos faltam destreza.

Adeus com aceno não.

 

Beijo sem sentir o lábio

Abraço solitário e triste

Ignorância mata o sábio

Maldade luta e resiste.

 

A mente está escassa,

A lágrima desaparece.

Dor fica e a vida passa

Oração esquece da fé.

 

Amor naufraga no rio,

Amizade tem o preço.

A morte causa arrepio

Infância ama o berço!

 

Peruíbe SP, 29 de junho de 2024.

 

 

quarta-feira, 26 de junho de 2024

A PURA VERDADE

 

Adão de Souza Ribeiro

A tristeza o vento leva,

Saudade o mar devolve.

Se o sol desafia a treva,

O verso adora a estrofe.

 

Amor vive só de sonho,

A planta adora a chuva.

Ontem vive enfadonho,

O pesar é dor de viúva.

 

Só vence quem desafia.

Conquista é do trabalho

Não há noite sem o dia

Nem árvore sem galho.

 

Fé não vive sem perdão

Reina o macho e fêmea.

Na vida tem o sim e não

A dúvida gera o dilema.

 

Há ontem sem amanhã,

Ou ida sem uma vinda?

Pecado nasce da maçã,

E a morte brota da vida.

 

O poeta canta a beleza,

Cantor sonoriza a frase

Pintor pinta a natureza,

Amar nunca será tarde.

 

Peruíbe SP, 26 de junho de 2024.

 

sábado, 22 de junho de 2024

MULHER COMPLETA

 

Adão de Souza Ribeiro

Não a quero só pela metade

Tê-la dividida não me serve,

Sabe que a bem da verdade

Tempo passa a vida é breve.

 

Eu a quero só por completa,

Para meu prazer a vida toda

Não quero que nada impeça

Mesmo que já fora de moda

 

A vida simples de um casal.

Tem algo de belo, tem regra

Delicado e puro como cristal

Se quebrar, ele não regenera.

 

Estar vestida de toda pureza

Despida de qualquer engano

Trazer no coração a certeza,

De que serei seu único dono.

 

A casa é o nosso aconchego

O nosso castelo e o reduto.

Vem ser minha o mais cedo,

Corre, não perca um minuto.

 

Amor não é um faz de conta

Que a incerteza vem e a leva.

Eu a quero nua e toda pronta,

Perfeita como verso do poeta.

 

Peruíbe SP, 22 de junho de 2024.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

AMOR TRESLOUCADO

 

Adão de Souza Ribeiro

Por que amo tanto assim

Este querer tresloucado?

Pode ser difícil para mim,

Viver para não ser amado.

 

Esta tortura e o devaneio,

Imaginar que tudo é belo.

Falar de amor sem rodeio

E viver no próprio castelo.

 

Preciso fugir desta prisão,

E dar asas ao sentimento.

Para a dor, vou dizer não

Dar ao peito um acalento.

 

Viver sem você é loucura,

A madruga só me entedia.

Não há remédio que cura.

Por isso, sofro noite e dia.

 

Se amá-la é a minha sina,

Eu não reclamo e rendo.

Será minha linda menina

Dona do amor tremendo.

 

Amor me faz seu escravo,

Então, eu vivo esse dilema.

No frágil coração eu gravo                           

Seu nome, o lindo poema!

 

Peruíbe SP, 19 de junho de 2024.

 

 

quinta-feira, 13 de junho de 2024

TIGRESA

 

Adão de Souza Ribeiro

Lembro, dá arrepio.

Ao ver tanta beleza

No corpo da tigresa.

Em uma noite de cio.

 

Uma fera tão bravia,

Com sua garra felina.

Era fera, era menina.

E me devorar, queria.

 

Seu olhar penetrante,

Brilho que hipnotiza

A minha Mona Lisa,

A seduzir seu amante.

 

Com os dentes afiados

Marca o seu território.

Sou a presa e imploro,

Cuida deste seu amado.

 

No quarto me espreita

Como faz na floresta.

Se fugir não me resta,

Vem comigo e se deita.

 

Peruíbe SP, 13 de junho de 2024.

COISAS DO AMOR

 

Adão de Souza Ribeiro

Se Maria amasse José

Como José ama Sofia.

Quanta beleza haveria

Se se amassem com fé.

 

Se André amasse Malu

Como Malu ama Alceu

O prazer seria um céu,

Em viagem lá pelo sul.

 

Se Wilma amasse Elias

Como Elias ama Ester.

Não teria o malmequer,

A vida não seria vazia.

 

Se Carlos amasse a Bel

Como a Bel ama Elísio.

E sofrer não era preciso

A alegria seria o troféu.

 

E se o amor fosse forte,

Como árvore do campo.

O peito não sofria tanto,

Eu não temeria a morte.

 

E se você fosse minha,

Bem como eu sou seu.

Viveríamos o apogeu,

Ao cair da tardezinha!

 

Peruíbe SP, 13 de junho de 2024.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

NÃO ME OUVISTE

 

Adão de Souza Ribeiro

Eu disse que te admiro

Por que ristes de mim?

Sonho ser o teu marido

E tanta felicidade assim.

 

Tu ignoraste o que disse,

Não ouviste meu coração

Hoje o peito chora triste,

Por tamanha a desilusão.

 

Nada cura aquela cicatriz

Velha marca do passado.

Não fui feliz por um triz,

Se eu fosse mais ousado.

 

Quem saberá teu nome?

Guardo sob sete chaves.

Sei que tal dor consome

E te perder, isso é grave!

 

Se hoje a mente lastima,

E vive de doce lembrança

É que vive a linda menina

Que me hipnotiza a retina.

 

Peruíbe SP, 10 de junho de 2024.

sábado, 8 de junho de 2024

LIBERDADE DA ALMA

 

Fábio José da Silva

É como respirar

É bem estar

No ambiente

No hábitat

É a leveza

Uma certa certeza

No caminhar

Senão euforia

Alegria contida

Brilho no olhar

Não é um desejo

É superar o medo

É realizar

É se sentir amado

Amar

A liberdade

Da alma

Não é direito objetivo

previsto

no artigo

Da Constituição

Não é somente o ir e vir

É rir e chorar

É estar feliz

Sem nem ter como explicar

Em sintonia com a verdade

Identificando a maldade                                                               

É compreensão

Quando se perde

Palavras não expressam

À aflição

Debruçar sobre livros

Experimentos científicos

Religião

A busca da humana bússola

Para encontrar a paz.

 

domingo, 2 de junho de 2024

O FINADO CIRÇO

 

Adão de Souza Ribeiro

                               Não é que eu fujo do tema. Mas é que desde a infância, a morte sempre me causou certa recusa em dissertar sobre o assunto. Embora ela seja certa, sempre procurei não encará-la de frente. Não a tenho como inimiga, mas é melhor deixá-la seguir o seu caminho sozinha, pois sei que não precisa de mim, na sua longa e solitária jornada.

                        Todas as vezes, que o sino da igreja matriz, badalava uma canção silenciosa e fora de hora, eu já sabia que um conterrâneo, partira para viagem sem volta, sem ao menos avisar seus amigos de boteco e das peladas de futebol. E, o que é pior, sem pedir ao vigário, o ritual da extrema unção. O clima do lugarejo, ganhava um ar de pesar.

                        As carpideiras, preparavam as lágrimas contratadas para a choradeira descomunal, durante as longas horas de homenagens. O ambiente fúnebre, era decorado com as mais diversas flores e coroas com dizeres de admiração ao de cujus. As velas quase apagando, em torno da urna, balançavam ao sabor do vento, para que a alma não ficasse na escuridão e errasse o caminho da salvação, indo bater na porta do purgatório.

                        Homens e mulheres, todos membros da amizade, da confraria e do bem querer do falecido, aproximavam e com olhar cabisbaixo, nada diziam e apenas desejavam felicidades na nova morada. E ele, como que lendo os pensamentos dos viventes presentes, dizia para si: “Lá não tem as peladas de futebol, como no campo da Fazenda Sabiá, nem as cachaçadas no Bar do Iwai e, muito menos, as carícias das primas na casa da luz vermelha. Como poderei ser feliz? Isso é conversa para boi dormir”.

                        Eu com a mania de observar o mundo e as coisas do dia a dia, ficava tristonho ao pensar do porquê que as pessoas partirem antes do combinado. Ali na sagrada Terrinha, onde todos nasceram e cresceram juntos, além de participaram das mesmas alegrias, não era justo alguém ir embora, deixando um vazio imenso. Meu Deus, que vida maluca!

                        Amanhã a rotina da cidade, seguiria o curso normal ou quase normal. O comércio abriria suas portas e, no Bar do Iwai, haveria um copo vazio sobre o balcão. No futebol da Fazenda Sabiá, quem bateria o pênalti? Quem receberia carícia da prima, na casa da luz vermelha? A esposa do falecido vestiu-se de preto, por um ano, em respeito ao luto. E, por isso, durante aquele período de isolamento não se engraçaria e não deitaria com outro homem, por mais atraente que fosse.

                        O Alfredo e o Cido Bobo, apareceram durante o ritual no Oriente Eterno (velório) e ficaram observando, sem nada entenderem, as atitudes das carpideiras. De vez em quando, alguém saia da sala fúnebre para tomar um gole de café ou fumar um cigarro. Embora o lugar fosse carregado, em razão do espírito do defunto ainda estar ali, as pessoas consternadas, por mais difícil que fosse, procuravam  descontrair.

                            Uma mosca atrevida, pousou na ponta do nariz do conterrâneo e ele sem força para espirrar ou expulsar a intrusa. O finado Cirço, quase morreu de tanto rir, ao ver o drama no teatro das carpideiras. Dona Ambrosina, uma amante discreta, enxugava a lágrima, que banhara a face, sem que o finado percebesse. “Meu docinho de cocô, você vai fazer muita falta!”, ela confidenciava ao enlutado coração.

                                O cachorro Pitoco, amigo fiel, ficava de prontidão, na porta de entrada e, por não entender nada dos humanos, esperava o tutor levantar e irem embora para casa. Assim ele fazia, quando o finado Cícero, o Cirço, estava nos botecos da cidade.

                         Para o momento fúnebre, Cirço envergava um velho terno cinza amarrotado, preparado as pressa por Sianinha, a doce amiga de infância. Para onde ele estava indo, não precisava de luxo e vaidade. Defunto pobre de luxo não precisa.

                        As pessoas ali presentes, trocavam comentários alusivos as virtudes daquele homem que dormia o sono dos anjos. O corpo que estava gélido e inerte, nada tinha a ver com aquele cidadão caliente de bondade e de alegria invejável. Alguém perguntou: “O nosso eterno amigo morreu de quê?”. Então, começaram as especulações e o diz–que-diz. Uma admiradora responde: “Ele morreu de overdose de prazer. Ninguém gozou a vida mais do que ele.

                        Eu peço desculpa por parecer funesto, durante a dissertação desta narrativa. Eu tenho a convicção de que é um tema muito pesado e triste, mas, de em vez quando, fica provocando a memória e pedindo para ser dito ou escrito. Eu não vou mencionar o nome do finado, a fim de não o constranger e nem comprometer a sua derradeira viagem ao campo santo, ou melhor, ao campo distante. Bem, vou parar por aqui. Este papo está ficando muito cadavérico. Cruz credo!

                        Eu apenas desejo ao finado Cirço, que a terra da santa Terrinha lhe seja leve. Querido amigo, descanse em paz!

 

Peruíbe SP, 02 de junho de 2024.