quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

CAMINHO SUAVE

 

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        Foi assim que tudo começou. A história teve início com a primeira letra, palavra e frase. Então Adolfo pegou gosto pela leitura e pela escola. “Barriga... Ba. Cachorro... Ca”, ele lembra com muita saudade. É como se fosse hoje, chorou no primeiro dia de aula. Para ele, era um mundo diferente. Não imaginava que, um dia, tornaria um literato.

                        Aos poucos, foi pegando gosto pela rotina escolar. Gostava de se sentar na primeira fileira. A lancheira, cadernos, lápis, borracha, apontador, já não eram “bicho de sete cabeças”. Todas as manhãs, cumpria um ritual sagrado, isto é, vestia o uniforme, penteava o cabelo, passava um perfume, tomava um café reforçado e rumava para a escola.

                        Lá no santuário sagrado, encontrava com os amiguinhos, os quais, assim como ele, estudavam e brincavam muito. Adolfo tinha por norma, estudar com afinco, para que no recreio, pudesse se esbaldar de brincar. No intervalo, também gostava da merenda servida pelas dedicadas merendeiras. “Que delícia!” asseverava o menino.

                        A convivência com os alunos, rendeu-lhe grandes e eternas amizades, as quais, perduram até hoje. Tanto é que se lembra que, à tarde e depois da aula, dirigia-se a casa dos amigos para assistir televisão (em preto e branco) ou brincar. Naquela cidadezinha do interior, Adolfo era muito feliz.

                        Para o menino, tudo era festa. Mas um belo dia, sem que se esperasse, eis que o nosso menino caiu na besteira de se encantar por uma professora. Não se sabe ao certo o que deu nele, pois, ao invés de se dedicar aos estudos infantis, enveredou pelos estudos do coração. Hão coisas, que nem Freud explica.     

                        Foi então que, para ele, a vida escolar, ganhou mais sentido. Passou a ver a professora com outros olhos e aquilo custava horas de divagação. O jeito dela andar, vestir, falar, sorrir, ensinar, sentar-se à mesa e tantas outras virtudes, eram diferentes dos demais mestres. Certo é que ficava ansioso para vê-la chegar na classe e, toda charmosa e sorridente, dizer: - Meus queridos, bom dia!

                        Quando ela não ministrava aula, fosse por motivos administrativos ou pessoais, o pobrezinho do Adolfo entrava em desespero. Aquele dia letivo não tinha mais sentido. Lembrava com carinho, quando ela pedia para ir à lousa a fim de escrever ou apagar o que estava escrito. Ainda bem que, nem ela e nem os colegas, percebiam aquela afeição tresloucada, pensava ele.

                        Naquele tempo em que transcorreu a história ora narrada, havia enorme respeito e amor ao professor; já o professor, por sua vez, se dedicava por inteiro ao aluno. A escola era uma extensão do lar. O aluno via no mestre, a imagem sagrada dos pais. Talvez seja essa razão que os infantes se engraçavam com quem ensinava. O amor de Adolfo, não tinha erotismo, pois era um menino puro.

                        O caminho que Adolfo percorria, todas as manhãs, da casa até a escola, não lhe era duro e nem tortuoso; mas, sim, era um caminho suave. Sentia um prazer imenso, ao manusear os livros e, também, ao buscar conhecimento. Ele se enchia de entusiasmo ao saber que lá encontraria a tão vislumbrante professora.

                        O menino era diferenciado dos demais. Sua ânsia pelo saber, ultrapassava a sua idade. Queria saber de coisas, que iam além do seu tempo. Se naquela época, passou despercebido pelos moradores do lugarejo, talvez tenha sido pelo seu jeito humilde e por ter vindo de uma família pobre. A riqueza interior, era algo a ser lapidado.

                        Desde a tenra idade, Adolfo já se mostrava um sonhador. Crê-se que foi naquele tempo que ele, sem saber, já experimentou as primeiras lições de um amor platônico. Descobriu na santa infância, que amar o belo, era o maior aprendizado da vida. O que se escrevia na lousa do coração, nenhum apagador haveria de tirar da mente.

                        Quem nunca se apaixonou por uma professora, que atire o primeiro giz.

 

Peruíbe SP, 19 de fevereiro de 2023.

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