Adão de Souza
Ribeiro
Foi assim que tudo começou. A história teve
início com a primeira letra, palavra e frase. Então Adolfo pegou gosto pela
leitura e pela escola. “Barriga... Ba. Cachorro... Ca”, ele lembra com muita
saudade. É como se fosse hoje, chorou no primeiro dia de aula. Para ele, era um
mundo diferente. Não imaginava que, um dia, tornaria um literato.
Aos poucos, foi pegando gosto pela rotina
escolar. Gostava de se sentar na primeira fileira. A lancheira, cadernos,
lápis, borracha, apontador, já não eram “bicho de sete cabeças”. Todas as
manhãs, cumpria um ritual sagrado, isto é, vestia o uniforme, penteava o cabelo,
passava um perfume, tomava um café reforçado e rumava para a escola.
Lá no santuário sagrado, encontrava com os
amiguinhos, os quais, assim como ele, estudavam e brincavam muito. Adolfo tinha
por norma, estudar com afinco, para que no recreio, pudesse se esbaldar de
brincar. No intervalo, também gostava da merenda servida pelas dedicadas
merendeiras. “Que delícia!” asseverava o menino.
A convivência com os alunos, rendeu-lhe
grandes e eternas amizades, as quais, perduram até hoje. Tanto é que se lembra
que, à tarde e depois da aula, dirigia-se a casa dos amigos para assistir
televisão (em preto e branco) ou brincar. Naquela cidadezinha do interior,
Adolfo era muito feliz.
Para o menino, tudo era festa. Mas um belo
dia, sem que se esperasse, eis que o nosso menino caiu na besteira de se
encantar por uma professora. Não se sabe ao certo o que deu nele, pois, ao
invés de se dedicar aos estudos infantis, enveredou pelos estudos do coração.
Hão coisas, que nem Freud explica.
Foi então que, para ele, a vida escolar,
ganhou mais sentido. Passou a ver a professora com outros olhos e aquilo
custava horas de divagação. O jeito dela andar, vestir, falar, sorrir, ensinar,
sentar-se à mesa e tantas outras virtudes, eram diferentes dos demais mestres. Certo
é que ficava ansioso para vê-la chegar na classe e, toda charmosa e sorridente,
dizer: - Meus queridos, bom dia!
Quando ela não ministrava aula, fosse por
motivos administrativos ou pessoais, o pobrezinho do Adolfo entrava em
desespero. Aquele dia letivo não tinha mais sentido. Lembrava com carinho,
quando ela pedia para ir à lousa a fim de escrever ou apagar o que estava
escrito. Ainda bem que, nem ela e nem os colegas, percebiam aquela afeição
tresloucada, pensava ele.
Naquele tempo em que transcorreu a história
ora narrada, havia enorme respeito e amor ao professor; já o professor, por sua
vez, se dedicava por inteiro ao aluno. A escola era uma extensão do lar. O
aluno via no mestre, a imagem sagrada dos pais. Talvez seja essa razão que os
infantes se engraçavam com quem ensinava. O amor de Adolfo, não tinha erotismo,
pois era um menino puro.
O caminho que Adolfo percorria, todas as
manhãs, da casa até a escola, não lhe era duro e nem tortuoso; mas, sim, era um
caminho suave. Sentia um prazer imenso, ao manusear os livros e, também, ao
buscar conhecimento. Ele se enchia de entusiasmo ao saber que lá encontraria a
tão vislumbrante professora.
O menino era diferenciado dos demais. Sua
ânsia pelo saber, ultrapassava a sua idade. Queria saber de coisas, que iam
além do seu tempo. Se naquela época, passou despercebido pelos moradores do
lugarejo, talvez tenha sido pelo seu jeito humilde e por ter vindo de uma
família pobre. A riqueza interior, era algo a ser lapidado.
Desde a tenra idade, Adolfo já se mostrava um
sonhador. Crê-se que foi naquele tempo que ele, sem saber, já experimentou as
primeiras lições de um amor platônico. Descobriu na santa infância, que amar o
belo, era o maior aprendizado da vida. O que se escrevia na lousa do coração,
nenhum apagador haveria de tirar da mente.
Quem nunca se apaixonou por uma professora,
que atire o primeiro giz.
Peruíbe SP, 19 de
fevereiro de 2023.
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