Adão de Souza
Ribeiro
“Penso, logo existo”, disse René
Descartes, o filósofo francês. Tenho dito e repetido, que a minha mente vive em
eterna ebulição e evolução. A mania de pensar, não se aparta de mim, nem de dia
e nem de noite. Essa minha inquietação, tem proporcionado momento de intenso
questionamento e de angustia. Fico horas e horas, numa briga constante com as
coisas que não entendo ou não compreendo. Para amenizar os conflitos internos,
busco fuga nas bibliotecas e em intermináveis redações, noite a dentro.
Quantas vezes, os professores se depararam
com inesperadas perguntas, que eu proferia, vindas do baú empoeirado da minha
imaginação. Enquanto os colegas de classe se contentavam com o que estava
escrito na lousa (quadro negro), eu queria saber aquilo que o giz não sabia
explicar. Também, quantas vezes eu quebrava um brinquedo, com único desejo de
saber o que ele tinha por dentro, ou seja, qual era o encanto de sua alma. São
por esta e outras razão, que, por vezes, fui incompreendido e creio ter passado
despercebido.
Desde a tenra idade, o meu espírito
aventureiro foi um eterno sonhador. Percorrer as longas estradas do
conhecimento e voar nas asas da liberdade, fizeram de mim, um menino inquieto.
Desbravei e viajei por mundos insondáveis. Abandonei o corpo físico e transpus
o campo da metafísica. A necessidade de compreender as coisas ao meu derredor,
alimentou a vida inteira, minha fome de conhecimento. Desnudar o que se esconde
por trás dos mistérios do Universo, excita-me por demais. Não sou uma “Maria
vai com as outras”. Angariei inimizades por agir assim, mas isso pouco
importa.
Na vida inteira, tive como dicionário de
cabeceira, o princípio da liberdade de agir e pensar. Expurguei ao longo da
existência, todo tipo de limitação. Nunca me prendi a conceitos e preconceitos,
estabelecidos pela ignorância humana. Fujo daqueles que acreditam na existência
da verdade absoluta, como o diabo foge da cruz. Acredito piamente na
transitoriedade da vida, embora ninguém seja obrigado a concordar comigo, pois
isso chama-se livre arbítrio.
Amei incondicionalmente uma menina, que,
depois vi que era “uma estrela tão alta e tão fria”, parafraseando o poeta Manuel
Bandeira, no poema “A estrela”. Também, amo eternamente a Deus, acreditando que
ele é um Ser de eterna bondade e não um Ser vingativo, como professam as
religiões mundanas, ao dizerem: “Não faça isso, menino, que Deus te castiga!” Vê, portanto, caros amigos, que tenho por
sina, viver a vida inteira, brigando comigo mesmo, em busca de soluções de
coisas, muitas vezes, insolúveis. “Penso, logo existo” e, na maioria
das vezes, existir causa-me imensa dor. Por isso, dizem por aí: “Aceita
que dói menos”. Mas o fato de doer menos, não significa que estou livre
dos bons ou maus pensamentos.
Mas o que vem a seguir, é por demais
interessante. Ou melhor, cômico para não dizer trágico. Estava debruçado na
janela da sala, olhando para o enorme quintal de casa, onde podia divisar
arvores frondosas, jardins e um riacho ao fundo. Por ali transitavam
garbosamente pássaros e animais, dentre eles, porcos, galinhas, patos, gansos,
cabritos e tantos outros animais domésticos. Era bonito de se ver, eles andando
para lá e para cá, em busca de alimento e praticando atividades de reprodução.
Observar o encanto da natureza, com olhos de inocência e poesia, são
privilégios de poucos. Eu tive e, até hoje, sou grato por isso.
Mas a triste sina de ser um eterno pensador,
tem-me custado caro e muito caro. Ali debruçado na janela da minha infância,
veio-me à mente, um pensamento engraçado e, ao mesmo tempo aterrorizador.
Divaguei por um instante: “Já pensou seu eu tivesse nascido no corpo de
um daqueles animais, os quais viviam naquele quintal?”. O que seria de
mim e do meu futuro, ao passar a vida inteira naquele marasmo e naquela mesmice
do dia a dia. Levantar antes de nascer do sol, passar o dia em busca de
alimento, praticar atos de reprodução e, para os menos afortunados, terminando
em cozimento, na panela sobre o fogão a lenha. Sai fora pensamento. Credo em
cruz!
Se assim fosse, como eu iria compartilhar
meus questionamentos e minhas divagações terrenas. Passar os meus dias findos,
encarcerado num corpo cheio de limitações. A mente em ebulição e trancafiado numa
cabeça pequena e desprovida de raciocínio, obedecendo apenas o instinto de
sobrevivência. Ciscar o dia inteiro, carcarejar e subir no poleiro, como as galinhas; grunhir
e chafurdar, como os porcos na pocilga, sem poder expressar meus pensamentos e
sentimentos, seria torturante demais para mim.
Viver eternamente encarcerado dentro de um
corpo que não me pertence, seria melhor não existir. Ainda bem que nasci um
pensador, no corpo de um ser humano. Obrigado meu Deus!
Um comentário:
Excelente!!!
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