João amava Maria.
Maria amava José. José não amava ninguém. João era pobre, filho de caminhoneiro.
José era rico, filho de fazendeiro. Maria, bela e formosa, filha de contador de
dinheiro. Naquela história de amores tão antagônicos, brotava algo tão sublime,
que marcaria para sempre a vida de João. O cenário do que aqui se pretende
narrar, era uma cidade bucólica, encravada no interior do Estado.
Como sentimento não tem cabresto,
João selou o seu destino, sem ter noção de onde iria parar. Por ser
persistente, o coração enamorado daquele jovem, simples e sincero, vivia
intensos momentos de sonhos e fantasias. Embriagado por desejos incontroláveis,
ele divagava noite adentro, entre crônicas e poesias. Produziu belos hinos de
amor, pensando na mulher amada. Mas ela, que nada!
Mas se Maria amava José, o que
seria da vida de João? A cidade pequena e acolhedora, nada podia saber do que
se passava na alma do nosso protagonista. Não queria ele dar nenhuma pista de
sua musa inspiradora. Era um sentimento intimo e só seu. Não pretendia causar
transtorno a Maria, nem de noite e nem de dia. Bela e formosa, deveria embelezar
o jardim das ilusões de João, sem despertar suspeita.
Por que José não demonstrava
carinho por Maria? Preocupado com a lavoura e o gado, José vivia outra
realidade. Rodeado de amigos e bajuladores, buscava outros prazeres, longe dos
braços, do cheiro e do calor de Maria. Mesmo assim, ela se derretia de amores
por José, amigo inseparável de João. Maria ostentava beleza, simpatia e roupas
de grife. José pouco se importava com a posse que tinha. João, perdido na sua
timidez, preferia falar de amores impossíveis, em seus versos de rimas ricas ou
pobres.
A cidade de vida simples fez de João
um homem simples. Foi naquela toada, que aprendeu com humildade, aceitar os desígnios
de Deus. Se os olhos de Maria admiravam outro varão, nada restava a João, senão
abrandar o seu próprio coração. E foi assim, aos poucos, que ele aprendeu a
conviver com resignação, as longas decepções amorosas. Percebeu que o coração
tem lá suas razões, que a própria razão desconhece. Se ela não o amava, restava
apenas uma prece amena.
Embora soubesse que José ocupava o
coração de Maria, ele (João) tinha um carinho e um respeito imenso pelo amigo.
Sabia que, um dia, o destino haveria de dar um epílogo àquela história, que nem
mesmo havia começado. Havia tantas Marias, que transitavam formosas para lá e
para cá, pelos jardins floridos da imaginação de João. Mas por que foi se
engraçar logo por Maria, filha do contador de dinheiro? Deveria ter se apeado
bem cedo, daquele romance impossível, antes que pudesse se machucar ao primeiro
galope.
Na escola, quando os amigos de
João, o viam tristonho, puxavam-no de lado, para bisbilhotarem sobre o que se
passava com ele. João quieto e moribundo, nada dizia, apenas resmungava: “Um
dia, tudo isso passa”. Maria vai embora, ganhará asas e fará morada em
outro coração. João, por sua vez, vai amadurecer e perder a timidez e, quem sabe,
conquistar outra princesa, com a mesma beleza dela. E, José que ficou alheio a
tudo isso, irá cuidar dos seus bens por ali ou partirá para o pantanal, no
primeiro trem?
Mas quem, em sã consciência, nunca
teve uma queda pelo sorriso e olhar sensual de uma cabrocha tão meiga e tão
bela? Não importava quem era ela. Se se vestia roupa de grife ou de chita,
pobre ou rica, não fazia diferença. O que tinha peso para o adolescente
apaixonado, na realidade, era ter sido ela a escolhida, dentre tantas. O
destino não traça o mapa do sentimento alheio, apenas mostra o caminho, o meio
de se buscar a felicidade. Mas Maria havia se enamorado de José e não de João.
Triste canção, sem rima e sem enredo. Por que aquela história de amor tão puro
e tão belo haveria de perecer tão cedo?
Não tenha medo, meu amigo, pois
vou te contar um segredo. Tudo isso é apenas o enredo de uma história de amores
impossíveis, ocorrido na cidade da nossa imaginação. Nada mais!
Peruíbe SP. 24
de novembro de 2018
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