“A educação vem do berço”.
Por centenas de vezes, ouvia essa frase dos meus pais ou dos meus professores.
Por isso, sempre acreditei que a educação, brota no seio da família, com a responsabilidade
dos pais. O berço representa o início da vida, onde somos acolhidos com
proteção e carinho. Ali, ao alcance dos olhos de nossos pais, despertamos para a
vida e para o mundo.
Sempre fui apegado às pequenas
coisas, as quais, em sua simplicidade, traziam dentro de si, uma simbologia. Ainda
na tenra infância, sabia que aquilo marcaria para sempre o meu destino, como se
fosse um ferrão. Eu ficava horas e horas, comtemplando os sinais da natureza, o
encanto dos animais, os trejeitos das pessoas, a beleza das melodias, as entrelinhas
de um verso e por aí se vai.
Creio que as crianças da minha
época, viam-me como um rebelde, louco ou ermitão. Em razão da transitoriedade
da vida, queria viver intensamente cada momento e deixar fotografado na
memória, tudo que entendia ser precioso para a minha vida tão efêmera e tão frágil.
Por isso, dentre as minhas preciosidades, não foge de mim, a imagem do berço.
Num canto do quarto, lá estava
ele. Enquanto ele me acolhia, em meio ao lençol macio, minha mãe velava pelo
meu sono infantil. Uma luz tênue afugentava os espectros da noite e permitia
que minha mãe não se descuidasse de mim. Uma mamadeira, um chá de camomila e um
chocalho eram partes dos cuidados maternos. Assim, por muito tempo, senti-me
acariciado e protegido. Um dia, eu ganharia asas e o berço seria apenas um
quadro pendurado na parede envelhecida da memória. Pendurado, mas não esquecido.
Quando ganhei força nos braços e
nas pernas, atrevi-me a agarrar em suas grades firmes e acolhedoras. De longe,
minha mãe observava os primeiros movimentos de alguém, cujo destino, sabia ela,
era desbravar um mundo longínquo e misterioso. O limite do berço ensinou-me a
ter disciplina e obediência, mas, ao mesmo tempo, lutar pelo sonho de transpor
barreiras inimagináveis. Enquanto ele fez parte do meu mundo infantil, aprendi
ser paciente e, ao mesmo tempo, perseverante.
Tenho para mim, que ali dormitava
o sentido da frase: “A educação vem do berço”. Ali aprendi que tudo tinha o seu
tempo... tempo de dormir, de mamar, de sonhar, de andar, de obedecer, de aprender,
de acreditar na vida, de esperar a morte e de dar um tempo para tudo. Foi ali,
ao lado dele, velando pelo meu sono, que meus pais me educaram para a vida, que
se avizinhava. O berço ensinou-me a não me apartar do amor e da fé.
Aquele berço, por vontade do
destino, abrigou todos os meus irmãos, com o mesmo carinho e paciência. Não
bastasse isso, duas sobrinhas, filhas do meu irmão caçula, buscaram nele o
mesmo amor. Lá estava ele, a derramar afago a todos da minha linhagem. Nunca
recusou o calor do seu colchão, o beijo do seu lençol e nem a proteção de suas
grades. Os seus pés firmes, sustentou todos os sonhos de minha família. O tempo
passou, mas ele nunca se arredou de mim. Por isso, permanece vivo na minha
memória.
Envelheci, com o passar dos anos,
mas ele continua firme, esperando a chegada do filho da minha sobrinha. Lá num
canto do quarto, está ele de braços aberto e muito ansioso, pela chegada de
mais uma vida. Ele cuidará de um anjo, assim como cuidou de mim, o primogênito
da família. Ele saberá cuidar e educar daquele que, com suas asas brancas,
simbolizando a pureza, pousará no lar.
Tenho pelo berço, um grande
apreço. Mas um dia, quando o berço já carcomido pelo tempo, não tiver mais
forças para abrigar os nossos sonhos, vou rezar um terço, para ele descansar em
paz.
2 comentários:
Belo texto. parabéns!!! bjos
Tem muito veneno ainda, Parabéns, pela crônica
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