quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

ADEUS, MINHA RAINHA, ADEUS!


                             Não foi por falta de aviso. Ao invés de ouvir os conselhos de seus súditos fiéis ou dos gritos das ruas, a Rainha preferiu dar ouvidos aos asseclas e bajuladores. Ignorou os pensadores da corte e dormiu no colo dos piratas do reino. Louca pelo poder e despreparada para o comando, deixou-se levar por uma trupe de oportunistas e de péssima índole. Chamou para compor o ministério, uma corja de ladrões e estelionatários. Concedeu títulos de nobreza a quem não merecia.

                        Foi assim que, aos poucos, após a coroação, a monarca acabou caindo em desgraça pessoal e em descrédito perante a nação. A economia naufragou num mar de lama. As províncias nada produziam, gerando desemprego e fome. Havia ruas descalças e buracos aqui e acolá, mais que na camada de ozônio. Falta de iluminação, mato e lixo por toda parte, um reino entregue às moscas. O Palácio Real, com suas paredes opacas, há muito deixou de ser um cartão postal.

                        Não bastasse isso, as perseguições contra as pessoas de bem, por parte de seus asseclas, entristeciam o reino. Não fora atoa que o Reino Caiçara distanciou-se dos reinos vizinhos e além-mar. O povo saudosista não se esqueceu, quando da ascensão da monarca ao trono. Tempos idos aqueles, em que se vendeu um mundo encantado, um conto de fadas. Ao dirigir-se à nação, da sacada do palácio, prometeu cumprir e fazer cumprir as leis, emanadas da constituição. Disse que reergueria das cinzas, um reino falido, deixado pela monarquia anterior.

                        Não foi por falta de aviso. Por diversas vezes, os conselheiros do reino, em razão do descontentamento geral, mostraram o caminho da abdicação do trono. Preferiu dar ouvidos às sanguessugas do poder e caminhar sozinha rumo ao desterro da história por ela escrita. Os bajuladores foram os primeiros a bateram em retirada, como aves de rapina, quando da falta de alimento. Triste fim de uma monarca louca e incompetente. Deixar o palácio pelas portas do fundo era, antes de tudo, uma humilhação sem precedentes na história centenária do reino.

                        Mas nem tudo está perdido. Assim como na natureza, tudo se renova. Se a Rainha não quis abdicar do trono, quando lhe foi dada a oportunidade, agora é tarde. Por força de lei, ela deixará o trono no final do ano, ao apagar das luzes. O povo não mais dorme no berço da ignorância. Basta dizer que o Parlamento, por decisão através do voto universal, foi renovado em oitenta por cento. Embora digam que um terço do novo Parlamento pertence ao grupo do antigo Primeiro-Ministro; outro terço, a um candidato derrotado ao reino e o outro terço, a um rei deposto há muito tempo, a assertiva não prospera.

                        O certo é que já temos um novo rei, eleito e aclamado pelo povo. Mais uma vez, o sonho e a esperança se renovam. Deseja a nação, que o rei eleito não nos jogue no calabouço do desmando administrativo, como fez a rainha, ora deposta pela vontade popular. É certo que de boas intenções, o inferno está cheio. Os tabloides matutinos, já estampam em primeira página, palavras do novo governante, sobre suas intenções como monarca. Algumas de suas primeiras atitudes soam como medidas paliativas, o que nos causam preocupações. Mas isso será debatido depois, num momento oportuno.

                        Não deve esquecer o novo monarca, que os súditos já têm suas convicções pessoais, em razão da convivência num reino sucateado e desacreditado. Vossa majestade não pode estar presa a pessoas inescrupulosas, parlamento corrupto, suprema corte ineficaz. Se assim agir, correrá o risco de ser jogado no mesmo desterro da rainha louca e incompetente. Pode ser banido da história e deixar o reino pelas portas do fundo, numa triste humilhação. A nomeação do primeiro escalão do novo governo delineia a sua trajetória vindoura.

                        Mas quanto à rainha, pouco resta a dizer. Solitária e rejeitada pelo povo, seguirá seu caminho, rumo ao despenhadeiro do esquecimento. Um dia, ao ser deposto pelo congresso, um governante do sistema republicano, disse: “O poder é solitário”. Quando o destino o leva para a guilhotina, o governante irá só, sem seus bajuladores e asseclas.

                        Ao observar uma cena desoladora, vendo a rainha caminhar cabisbaixa pela estrada solitária do reino, só nos resta dizer pesarosos: “Adeus, minha rainha, adeus!”  

Peruíbe SP, 01 de dezembro de 2016

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