Desde
que o mundo é mundo, sempre houve lista para tudo. Começa pela lista de compras
no “Armazém do Takada”, em Guaimbê SP, cidade da minha infância. Gostamos de
lista e de fila. Lista de espera é a que mais nos incomoda e causa ansiedade.
Outras, por suas vezes, nos decepcionam. Engraçado que, sem querer, vamos aos
poucos, acostumando com isso. Saí da minha infância com uma lista de
responsabilidades e obrigações.
Nem mesmo o Reino Caiçara
livrou-se desse costume enraizado na cultura nacional. Embora tenha relutado
muito, não escapou dessa contaminação milenar. Confesso que, ao longo dos anos,
pude compreender a necessidade dessa instituição chamada carinhosamente de “lista”.
É uma forma de organizar e reorganizar a vida cotidiana. Desde que se obedeça á
ordem técnica, tudo pode dar certo. Na guerra, chamamos de estratégia militar,
mas, para nós, em tempos de paz, chamamos de relação de obrigações, a serem
fielmente cumpridas.
Um dia desses, acordei com os tabloides
matutinos, noticiando a lista dos ministros, nomeados pelo novo Rei, a fim de
ocuparem os assentos no Palácio Real. Durante a circulação, já despertava
especulações entres os súditos. Para alguns, causou surpresa e, para outros,
indignação. O novo Rei tentou apaziguar os ânimos, onde, em rede nacional,
listou os principais projetos para o início de seu reinado. Numa análise ainda
prematura, vejo que suas intenções carecem de mais sustança.
Os técnicos e especuladores de
plantão, dizem que quatro dos nomeados, já fizeram parte do governo de um reino
anterior, deposto pela vontade popular. Em razão disso, não acreditam em
mudanças radicais e, o que é pior, vê uma relação pecaminosa com administrações
anteriores. Nota-se certa flexibilidade do novo monarca, quando ele não cita,
dentro do seu projeto de reinado, a repatriação aos cofres públicos, das
patacas (moedas) surrupiadas na calada da noite.
Deu apenas um leve sinal de acabar
com a “farra do boi”, quando anunciou
a redução de títulos de horarias, às custas do dinheiro público. Na realidade,
deveria reduzir a zero as comendas, nascidas de presentes políticos aos
aliados. Espera-se que o Parlamento, ao redigir as leis que auxiliam o novo
monarca, não sigam diretrizes ditadas por políticos corruptos das gestações
(gestões) anteriores. Ao que parece, o novo Parlamento já nasce contaminados
por embriões corruptos e mal intencionados.
O que justificou a queda da rainha
louca e incompetente e a aclamação de um rei afeiçoado e carismático, foi o
desmando do governo anterior e, acima de tudo, a esperança de um futuro melhor.
Os súditos buscam na monarquia que se aproxima o acalanto que não teve da
monarquia que se foi. Não quer o povo sofrido, trocar seis por meia dúzia.
Também, não deve esquecer o novo Rei que: “Todo poder emana do povo e, em seu nome será
exercido”. Embriagar-se do poder e dar espaço aos aduladores de plantão
será sua derrocada final, assim como aconteceu com a monarca deposta.
Não demora e, em um plebiscito de
emergência, o povo fará uma lista pormenorizada das providências essenciais que
deverá tomar o no Rei. Todos nós seremos guardiões incansáveis dos interesses
do reino; cobrando do Rei e da corte, celeridade na sua execução. Desejamos que
o novo Primeiro Ministro traga no seu currículo, o princípio da ética e da
moral. E que ele não se envergue aos interesses particulares e escusos, como
aconteceu no governo anterior.
A lista, da qual aprendi a lidar
desde minha tenra infância, dará o norte político a ser traçado pelo novo Rei.
Lembro historicamente da “Lista de
Schindler”. Oskar Schindler, um militar polonês que, para salvar centenas
de milhares de judeus, dos campos de concentrações da Alemanha, durante a
segunda guerra mundial, elaborou uma lista e passou para a Gestapo (polícia
alemã). Antes, porém, comprou membros da Gestapo e do alto escalão nazista, com
bebidas, mulheres e produtos do mercado negro.
Esperam os súditos do novo Rei que
a lista elaborada por ele, seja de boas
novas e de grandes realizações; não a lista de um povo a ser lançado nas
câmaras de gás, construídas no holocausto da traição eleitoral.
Peruíbe SP, 18
de dezembro de 2016.
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