sábado, 3 de novembro de 2012

A NOVA RAINHA

                     Passei longos dias, diante do palácio real, como todo bom cidadão, ou melhor, plebeu, aguardando o anúncio de quem seria a nova rainha, regente soberana. Enfrentei sol e chuva, fome e sede, dor e cansaço, ansiedade e tantos outros sentimentos, a fim de ter o prazer de poder saudá-la pela primeira vez, como governanta dessa terra tupiniquim. Nunca antes na história desse país, digo, dessa terra, se aguardou com tanto desejo, tal anúncio.
                      Quando ela apareceu na sacada, com um leve sorriso no rosto e um aceno de mão, o povo aplaudiu e vi renascer a esperança nos olhos de cada um. Engraçado como as pessoas sentem falta de carinho e proteção. A figura tranquila da monarca representa o colo singelo da mãe, que busca dar ao filho, a noção exata do porto seguro, que tanto se almeja.
                      Fez um rápido discurso de agradecimento ao apoio recebido, prometeu ser fiel aos súditos e, ainda, defender os interesses do reino. Jurou cumprir e defender a Constituição, não esquecendo, também, da obediência incondicional á Deus. Percebi no semblante dela, uma expressão não só de alegria, mas, também, de responsabilidade. Havia muito que se fazer naquele reino. Organizar o palácio e as províncias, não constituía tarefa fácil.
                      Notei que ladeava a monarca, um grupo de pessoas, creio que de sua extrema confiança. Lá estavam, dentre elas, o beato Salú – arcebispo da capela real, Patrus – tenor e cantor de ópera, Olinto – historiador da corte e Antero – porta voz, mestre de cerimônia e ajudante de ordens. Confesso que me causou espanto, vê-la ao lado de pessoas não bem quistas pelos seus vassalos e plebeus. Para nós, a rainha é a mãe protetora. Portanto, não queremos vê-la mal acompanhada.
                      A chegada da nova rainha implica em urgentes mudanças nos costumes e decisões do palácio, bem como, da corte, das províncias e das capitanias hereditárias. O povo que a ovacionou, quando a viu na sacada, é o mesmo que clama por justiça. Ele estava cansado de falsas promessas e explorações. De tanto sofrer, acreditou no sonho desenhado pela monarca e espero que ela não o decepcione. Os ansiosos súditos aguardavam a nomeação dos colaboradores diretos da corte.
                      Quem serão os escolhidos, que ocuparão os postos chaves do reino? Quais são seus planos de governo e as obras iniciais? Como conduzirá a economia e as finanças da nação? O seu perfil, diante das relações exteriores com os reinos vizinhos e além-mar, como se desenvolverá? E as províncias, como serão tratadas por ela e pelos seus assessores mais próximos? Uma série de perguntas e incertezas toma conta dos súditos sofridos, porém, esperançosos.
                      Quem será o seu primeiro ministro, o todo poderoso. Não há de ser aquele que a lesou, ainda quando aspirava ao trono. E o procurador geral, não há de ser aquele que lesou os cofres públicos em eras passadas. E o ministro da defesa, nem passa pela ideia de que seja um despreparado agitador político. Temo que seu porta-voz, seja aquele que a blindou e a afastou do cheiro do povo. Nessa gama de preocupações, não quero que o ministro do tesouro, seja uma ave de rapina, faminta por patacas (moeda real), ás custas das desgraças do povo.
                      Também, os admiradores da rainha desejam saber como será o relacionamento dela com a Câmara dos Comuns (congresso) e o Parlamento, uma vez que ela tem apoio da maioria absoluta dos congressistas e parlamentares. Cremos que não haverá barganha e nem loteamento da coisa pública. Confiamos que os legisladores exercerão com maestria, o dever primordial de criar leis e fiscalizar os atos do primeiro ministro. É sabido que na monarquia, a rainha reina, mas não governa; cabendo esse ato, ao primeiro ministro.
                      O que se espera da nova governanta, é que não se permita que caminhem de mãos dadas pelos corredores palacianos, arrogância, corrupção, nepotismo, negociatas escusas, malversação do dinheiro público, luxurias e pompas em benefício próprio, assessores inescrupulosos, censura de expressão, descaso com os lamentos do povo, perseguições aos adversários, injustiças sociais e desrespeito aos sonhos dos súditos. Acima de tudo, o que se espera dela, é que seja firme e justa em suas decisões. Que não se deixe levar por maus conselhos, vindos de pessoas inescrupulosas, que a cercam e bajulam.
                      Eu, particularmente, súdito admirador e fiel clamo para que a sala do trono esteja sempre aberta, não só para a família real, seus colaboradores diretos e bajuladores desavergonhados, mas, o que é mais importante, para os habitantes de uma nação, a quem ela propôs representar com dignidade e responsabilidade. Se assim agir, encontrará um exército de bravos soldados, dispostos a morrerem pela pátria. Todos empunharão suas espadas, em defesa da monarca e de todo o reino. Se, ao contrário, será aprisionada na masmorra do esquecimento. 
                      Enquanto a rainha acenava e eu divagava em pensamentos, um italiano emocionado disse: “Abbiamo una nuova Regina”. Um francês, muito gentil, exclamou: “Nous avons une noevelle reine”. Um alemão carrancudo, sussurrou: “Wir haben eine nue konigin”. Um inglês solitário, pensou: “We have a new Queen”. Mas eu, preocupado com destino traçado ao reino, exclamei ao céu: “Deus salve a rainha!”.

Obs: Todas as frases estrangeiras, siginifcam: "Temos uma nova rainha".

Peruibe SP, 03 de novembro de 2012

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