sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

O CONTADOR DE CAUSOS

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                             “Quem conta um conto, aumenta um ponto”, diz o adágio popular.

                        Não que eu seja mentiroso, longe disso. Certo é que eu gosto de prosear bastante e contar causos, sejam eles verdadeiros ou imaginários. Está no meu DNA e naqueles conterrâneos humildes, nascidos lá na minha terrinha natal. E isso causa-me grande orgulho.

                        Recentemente fui visitar a terrinha e me sentei no banco da praça matriz, onde passei a apreciar o lugar e recordar dos velhos tempos. Eis que de repente, apareceu um cidadão, o qual, após puxar um dedo de prosa, começou a narrar fatos antigos, acontecidos ali. Contou causos, que me reportaram a doce infância. Confesso que fiquei embriagado com a simplicidade dele e o jeito de narrar.

                        Hoje o lugar mudou muito, haja vista que muito dos conterrâneos antigos, já partiram para mansão do amanhã e outros mudaram para terras bem distantes. Não bastasse isso, a população jovem, pouco sabe da história do nascimento do lugarejo e de seus desbravadores.

                        Por isso, cabe a nós, da velha guarda, ressuscitar e reviver as histórias e os causos do passado. Uma cidade sem o seu passado, está fadada ao esquecimento. O passado é como uma certidão de nascimento, onde tudo fica registrado para posteridade. Se depender de mim, minha terrinha não perecerá jamais. Prometo.

                        Já tenho dito repetidamente, que ali é uma terra fértil de causos reais e pitorescos. A vantagem de termos nascido numa cidade pequena e interiorana, prende-se ao fato de que não somos apenas mais um no meio da multidão. Nós conseguimos ver no outro, valores imensuráveis. Mesmo com seus defeitos, conseguimos extrair valores não visíveis a olho nu, porque enxergamos com olhos da alma e do coração.

                        Quando ouso contar causos, deleito-me com as histórias que vem na lembrança. Por isso, procuro ser fiel na narrativa, a fim de que as pessoas, ao lerem, sintam como se estivessem caminhando comigo pelas ruas do lugarejo. Ou então, assim como eu, sentado no banco da praça, ouvindo as histórias sem fim, de um humilde conterrâneo.

                        Se você que está degustando a leitura, for um saudosista assim como eu, haverá de compreender a minha preocupação em resgatar o passado, através dos causos tão simplórios. Ao tirá-los do fundo do baú, estamos valorizando o que é nosso de direito.

                        Eu sinto-me lisonjeado ao ver que conterrâneos, que lá habitam ou que moram em outras querências, leem e comentam. Então creio que estou dando o meu quinhão de colaboração, para imortalizar a minha terra natal.

                         Não sou um escritor como quilate de José Maria Machado de Assis, Graciliano Ramos de Oliveira, Aluízio Tancredo Gonçalves de Azevedo, João Guimarães Rosa, Afonso Henriques de Lima Barreto, dentre tantos outros e, ainda, quiçá, Jorge Leal Amado de Faria. Eu sou apenas um caipira interiorano, um humilde contador de causos reais ou pitorescos. Nada mais!

Peruíbe SP, 06 de janeiro de 2023.

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