Adão de Souza
Ribeiro
“Quem
conta um conto, aumenta um ponto”, diz o adágio popular.
Não que eu seja mentiroso, longe disso. Certo
é que eu gosto de prosear bastante e contar causos, sejam eles verdadeiros ou
imaginários. Está no meu DNA e naqueles conterrâneos humildes, nascidos lá na
minha terrinha natal. E isso causa-me grande orgulho.
Recentemente fui visitar a terrinha e me sentei
no banco da praça matriz, onde passei a apreciar o lugar e recordar dos velhos
tempos. Eis que de repente, apareceu um cidadão, o qual, após puxar um dedo de
prosa, começou a narrar fatos antigos, acontecidos ali. Contou causos, que me
reportaram a doce infância. Confesso que fiquei embriagado com a simplicidade
dele e o jeito de narrar.
Hoje o lugar mudou muito, haja vista que
muito dos conterrâneos antigos, já partiram para mansão do amanhã e outros
mudaram para terras bem distantes. Não bastasse isso, a população jovem, pouco
sabe da história do nascimento do lugarejo e de seus desbravadores.
Por isso, cabe a nós, da velha guarda,
ressuscitar e reviver as histórias e os causos do passado. Uma cidade sem o seu
passado, está fadada ao esquecimento. O passado é como uma certidão de
nascimento, onde tudo fica registrado para posteridade. Se depender de mim,
minha terrinha não perecerá jamais. Prometo.
Já tenho dito repetidamente, que ali é uma
terra fértil de causos reais e pitorescos. A vantagem de termos nascido numa
cidade pequena e interiorana, prende-se ao fato de que não somos apenas mais um
no meio da multidão. Nós conseguimos ver no outro, valores imensuráveis. Mesmo
com seus defeitos, conseguimos extrair valores não visíveis a olho nu, porque
enxergamos com olhos da alma e do coração.
Quando ouso contar causos, deleito-me com as
histórias que vem na lembrança. Por isso, procuro ser fiel na narrativa, a fim
de que as pessoas, ao lerem, sintam como se estivessem caminhando comigo pelas
ruas do lugarejo. Ou então, assim como eu, sentado no banco da praça, ouvindo as
histórias sem fim, de um humilde conterrâneo.
Se você que está degustando a leitura, for um
saudosista assim como eu, haverá de compreender a minha preocupação em resgatar
o passado, através dos causos tão simplórios. Ao tirá-los do fundo do baú,
estamos valorizando o que é nosso de direito.
Eu sinto-me lisonjeado ao ver que
conterrâneos, que lá habitam ou que moram em outras querências, leem e
comentam. Então creio que estou dando o meu quinhão de colaboração, para
imortalizar a minha terra natal.
Não
sou um escritor como quilate de José Maria Machado de Assis, Graciliano
Ramos de Oliveira, Aluízio Tancredo Gonçalves de Azevedo, João
Guimarães Rosa, Afonso Henriques de Lima Barreto, dentre tantos
outros e, ainda, quiçá, Jorge Leal Amado de Faria. Eu sou apenas
um caipira interiorano, um humilde contador de causos reais ou pitorescos. Nada
mais!
Peruíbe SP, 06 de
janeiro de 2023.
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