sábado, 19 de outubro de 2013

A BASTILHA E O REINO CAIÇARA


                                   Um dia desses, depois de uma longa jornada de trabalho, resolvi dar um tempo para mim. Para que desse certo, literalmente, procurei desligar do mundo. Nada de celular, televisão, jornal e nem mesmo aquelas visitas inesperadas. A rotina nos fazem robôs e somos manipulados pelo consumismo. Vi que era chegada a hora de deletar os inconvenientes do cotidiano. Precisava ficar zen, isto é, zen problema, já que mesmo com a correria, eu continuava zen dinheiro.

                                   Tomei um banho gelado, coloquei uma bermuda folgada, fiquei sem camisa e calcei um chinelo. Só não me incomodei com os pássaros cantoros, que todos os dias, honravam-me com encantadora visita. Descansei um litro de whisky na mesinha de centro e procurei me distanciar dos pensamentos perturbadores, frutos das responsabilidades trabalhistas, familiares e sociais. Naquele momento, queria ser invisível, como o “Fantasminha Camarada”, aquele dos desenhos da minha infância.

                                   De repente, busquei na coletânea de filmes um que me agradasse e que me fosse propício para meditar. Graciosamente veio-me às mãos “Adeus, minha Rainha”, de Benoit Jacquot. Além da elegância do figurino e do cenário, chamou-me a atenção, o enredo, qual seja: “Julho de 1789, alvorecer da Revolução Francesa. A vida no Palácio de Versalhes continua imprudente e descontraída, distante do tumulto que reina em Paris. Quando a notícia da tomada da Bastilha chega à corte, nobres e servos fogem desesperados, abandonando o Rei Luiz XVI e Maria Antonieta Josefa Joana de Habsburgo - Lorena. Sidonie Laborde, jovem leitora totalmente devotada à Rainha, não acredita no que ouve e permanece perto de sua adorada, confiante de que nada lhes acontecerá”.

                                   Durante o desenrolar da história, narrada no filme, percebi que havia uma verossimilhança com o Reino Caiçara, país em que vivo há mais de dez anos. Ao término, restou-me uma inevitável pergunta: “Será que a nossa Rainha, não aquela da ficção, ainda não percebeu que o seu reino pede por socorro?”. O povo descontente clama por providências urgentes em todos os segmentos da administração pública. Está por um triz, o momento que a Bastilha (trono) seja tomada e o poder devolvido ao povo. Os desmandos, a corrupção e a ganância desenfreada que envolve o reino, estão minando as forças do poder.

                                   Tenho pena da monarca que, assim como a Rainha Maria Antonieta, continua embriagada pelo poder e pelo assédio inescrupuloso de seus bajuladores diretos e indiretos. Enquanto isso, as províncias estão acéfalas, órfãs de sua protetora maior. As promessas, quando de sua ascensão ao torno, caíram no esquecimento e fez com que seus súditos entendessem que tudo não passou de um engodo. Temo que, a qualquer momento, nossa rainha seja condenada à guilhotina ou ao escracho popular.

                                   Para que isso não aconteça, necessário se faz, que ela tome medidas impopulares e, acima de tudo, que se expurgue do Palácio Caiçara, os falsos amigos ou colabores. É certo que, no frigir dos ovos, será abandonada e lançada á garra dos leões famintos por justiça. Não quero estar na pele da soberana e, muito menos, no desterro do esquecimento histórico a que será lançada. Já disse em outras oportunidades, que o poder pode até embriagar, mas, que é solitário. Essa lição, eu tirei do livro “Mil dias de solidão”, escrito por Cláudio Humberto Rosa e Silva (porta-voz do ex-presidente Fernando Collor de Melo).

                                   É urgente que eu encerre essa dissertação, antes que o povo, de quem emana o poder, tome a Bastilha e eu seja testemunha ocular das lágrimas pesarosas da Rainha. Que Deus se apiede de sua alma, se isso acontecer. Tomara que tudo não passe de ficção. Assim seja, amém!

 Peruíbe SP, 19 de outubro de 2013

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