Ultimamente,
ando afastado das dependências palacianas. Por isso, não tenho acompanhado as
recentes fofocas da corte. Nem mesmos os tabloides marrons tenho folheado nos
últimos tempos. Isso tem um lado bom: não estresso com as coisas que acontece na
corte e, muito menos, com a plebe.
Quando estava muito infiltrado no mundo palaciano, sofri demasiadamente.
Isso forçou-me a consultar meu cardiologista e, muitas vezes, precisei-me
afundar em doses cavalar de uísque. Quem sofreu foi meu fígado, que nada tinha
a ver com isso. Hoje, venho me redimir e pedir perdão a ele.
Mas outro dia, sem querer, deparei-me com
notícias nada alvissareiras sobre o “Reino Caiçara”. Causou-me muita tristeza,
para não dizer, grande preocupação com Vossa Majestade. As pessoas mais
próximas do trono, num desmando inimaginável, têm causado um desgaste político
enorme à monarca. Pensei que minhas profecias de outrora, quando ela ascendia
ao trono, jamais se consumaria. Mas, para minha infelicidade, aconteceu antes
do esperado. Não sou adivinho e, muito menos, mensageiro do apocalipse, mais
isso, era inevitável.
Corre pelas províncias, boatos que estão
pedindo a cabeça da rainha e de seus assessores mais próximos. Os súditos
reclamam da saúde, transporte, educação, moradia, segurança e tantas outras
coisas. Os ministros mais próximos, tem se preocupado mais em engordar suas algibeiras,
do que resolver as mazelas do bem comum. Dilapidam os cofres públicos, em prol
de construções suntuosas e carros de marcas caríssimas. Deleitam em luxúrias,
às custas da miséria de um povo ignorante.
A Câmara do Comuns, composta de políticos que
em nada representam os anseios do povo, recebem uma enxurrada de denúncias de
malversação do dinheiro público, e nada fazem para punir a rainha e seus
asseclas. Assim também, como o reino agonizante, ela e a Câmara dos Lordes, vão
perdendo a credibilidade perante uma população ansiosa por justiça. Por
diversas vezes, tentei alertar Vossa Majestade sobre as cautelas que deveria
manter com relação as pessoas mais próximas, porém, não me ouviu. “Cautela
e caldo de galinha, não faz mal a ninguém”, diz um adágio popular.
Talvez agora, a monarca consiga entender,
porque a Carta Magna da Nação, em seu Artigo 1º, § único, diz: “Todo
poder emana do povo, que o exerce por meios de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição”. Conclui-se, portanto, que
todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. Se a rainha não tomar as
cautelas de estilo, terá a sua cabeça decapitada em praça pública, numa
humilhação sem precedentes na história do reino.
Não queira Vossa Majestade acreditar que seus
asseclas a defenderão ou que pedirão para serem sacrificados em seu lugar. Com
certeza, fugirão para paraísos fiscais e protegidos pela impunidade que sempre
imperou por aqui. E o povo, essa massa de manobra, continuará mendigando o pão
mofo deixado por aqueles, que sempre acreditou, serem os defensores de seus
direitos. A bem da verdade, o povo existe apenas para carregar o andor pesado
dos impostos e das obrigações públicas. E recebem como pagamento, as chibatadas
impiedades dos mandatários do poder.
Vejo com tristeza, que o reino está em coma
profundo e que a monarca agoniza solitária no leito do abandono político. Pouco
resta a ela, senão abdicar em nome de uma democracia transparente, bem como, da
moralidade e da ética administrativa. Deverá descer do palco da arrogância
financeira e política, para salvar um reino agonizante e que clama por
salvação.
“God salve our queen” (Deus salve nossa
rainha)
ADÃO DE SOUZA RIBEIRO
Escritor, poeta e
cronista
Nenhum comentário:
Postar um comentário