O
BERÇO
Adão de Souza
Ribeiro
Nada nos conduz ao passado, como o berço de
ninar bebê. Ele tem cheirinho de acolhimento e proteção. Lembro-me do berço de
madeira maciça, onde eu e meus irmãos ficavam, quando nasciam. Ali
dormitávamos, num sono tranquilo e angelical. Enrolados em panos brancos como a
neve, colocados por nossa mãe, brincávamos como nossa imaginação.
No quarto, com pouca luz, mexíamos as pernas
e os braços, como que descobrindo o movimento do corpo. Ao lado dele, sempre
havia uma mamadeira com leite e outra com chá caseiro, feito de erva cidreira,
camomila e poejo. A cada jeito de chorar, nossa mãe sabia o que sentíamos. Se
era colo o nosso desejo, ela prontamente tirava dali e balançava por um longo
tempo.
Estando lá na cozinha, com seus afazeres
domésticos, tinha sempre uma antena ligada. Bastava ouvir o choramingar do
bebê, ela corria para o quarto, a fim de ver o que estava acontecendo. Ao
término da mamadeira, colocava o bebê de lado para ele golfar e não engasgar.
As fraldas eram feitas à mão e não compradas em lojas, por mães preguiçosas.
Só o berço pode proporcionar, momentos de
encanto e ternura. Ali recém-nascidos e vestidos de pureza, podemos sonhar com
um mundo livre de maldades e pecados. Ele é, antes de tudo, um santuário
sagrado. O berço de que falo, acolheu os sete filhos de meus pais, duas netas e
um bisneto.
Minha mãe não permitia aglomeração de pessoas
no quarto, a fim de evitar mau olhado, onde o nenê ficava agitado e pudesse
adoecer. Quando isso acontecia, chamava dona Severina, renomada curandeira,
para fazer benzeção e purificar o ambiente. Tudo isso, para proteger o
herdeiro.
Até hoje, o berço continua no canto do
quarto, aguardando a chegada de um novo bebê, para acolhê-lo com afeto e
alegria. A sua madeira maciça, o tempo não conseguiu destruir. Ela é tão forte,
como o amor imensurável, que eu sinto por ele e nem mesmo o tempo vai apagar.
Não me causa surpresa, ao saber que a Pátria
Amada dormiu naquele berço. Veja o que diz a letra do Hino Nacional Brasileiro:
“Deitado eternamente em berço esplêndido”. E é por isso, que me
orgulho dele. Ao contemplá-lo, vejo o quanto ele faz parte da minha vida e da
minha história. Quem dormiu naquele berço é um privilegiado.
À noite, enquanto todos dormiam, lá estava a
mãe ao redor do berço, cuidando do filho. Era a visão de uma santa, velando o
sono do anjo. Era a visão de Maria, ao lado da manjedoura, velando o sono de
Jesuscristinho.
A modernidade cobra um alto peço, por isso,
berço, eu jamais te esqueço!
Peruíbe SP, 21 de
março de 2025.