Adão de Souza
Ribeiro
Aldo
sentado num toco de árvore, pensou: “ Meu Deus, como pode o mundo inteiro caber no
quintal da minha casa? ”
Aquele pensamento parece
algo aleatório, mas não é. Todos os dias, em companhia dos irmãos e/ou dos amiguinhos,
ele se perdia em brincadeiras infantis. Era tão prazeroso, que não percebiam o
tempo passar. De repente já era noite e o sol foi dormir no leito macio e
aconchegante do horizonte.
Enquanto brincava e dava asas às fantasias,
Aldo contemplava o bailar das borboletas de cores multicores bailando numa linda
coreografia, no firmamento. Os pássaros pousavam na laranjeira e cantavam
hinos, agradecendo a natureza. No canto do quintal, havia o galinheiro, onde seu
Pereira, um galo charmoso, cuidava das esposas penosas.
Aldo e todos ali, tinham medo de passar do
portão para rua, pois o mundo lá fora era selvagem e perigoso. Tudo era
completo no quintal de casa, pois nada contaminava a infância deles. Os pés de
frutas, davam sombra e frutas à vontade. A cerca divisória, do quintal do
vizinho, feita de arame farpado, agraciava com carrapicho e arranha-gato.
As meninas nos vestidos de chita e trança no
cabelo, brincavam de casinha, onde confeccionavam bonecas de pano ou de espiga
de milho. Com delicadeza feminina, faziam comida de mentirinha, com punhado de barro.
No galho da goiabeira, o tico-tico preparava o ninho, para chegada dos
filhotes. Tyson, o cachorro de estimação, deitado na sombra do abacateiro,
espiava a molecada.
No meio do quintal, havia uma torneira e
junto a ela um batedor, onde a mãe lavava roupa e a colocava para quarar, na
grama e sob o sol ardente. À tarde, a
mãe de Aldo preparava o lanche com cuscuz e leite para dar para molecada.
Aquilo era uma festa danada, pois tudo era feito com muito carinho. O mundo
inteiro cabia no quintal. E o quintal era um mundo de fantasia e alegria
infantil.
Os meninos de short, sem camisa e descalços
se sujavam de terra e adquiriam anticorpos, contra todo tipo de doença.
Consulta médica, era para os filhos de uma sociedade, cheia de Mimi e não me
toque. Os brinquedos, eram entalhados em madeira, o que aguçava a criatividade.
As diversões não vinham prontas.
Naquele tempo não havia a tal tecnologia e o
amaldiçoado celular, que isola as pessoas e afugenta as crianças do direito de
serem criança. A modernidade matou a inocência das crianças e criou verdadeiros
monstros. O quintal de hoje, tem o tamanho da tela do celular, onde nada cabe.
O mundo virtual não tem a delicadeza e a pureza do mundo do menino Aldo. Isso é
lamentável!
Por isso que, de vez em quando, o menino Aldo
sentava-se no toco de madeira e buscava na memória, a imagem do quintal, onde
cabia o mundo de fantasia do passado. A dança das folhas das árvores, ainda
embalavam seus sonhos de menino, onde, um dia, a alegria fez morada. O quintal
e o menino, eram inseparáveis amigos.
O portão do quintal da casa está fechado.
Hoje o lugar é um museu e ao olhar por cima da cerca, vê-se que que lá dentro
só há relíquia do mundo de Aldo, que cabia na imaginação e na fantasia das
crianças da sagrada Terrinha. O povo preserva tudo aquilo, para que não se
apague da memória daqueles que tiveram o privilégio de viverem naqueles anos
dourados, que não voltam mais.
Enquanto houver um quintal dentro de nós,
continuamos a ser crianças felizes!
Peruíbe SP, 02 de
maio de 2024.
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