quinta-feira, 2 de maio de 2024

O QUINTAL DE CASA

 

Adão de Souza Ribeiro

                              Aldo sentado num toco de árvore, pensou: “ Meu Deus, como pode o mundo inteiro caber no quintal da minha casa? ”

                        Aquele pensamento parece algo aleatório, mas não é. Todos os dias, em companhia dos irmãos e/ou dos amiguinhos, ele se perdia em brincadeiras infantis. Era tão prazeroso, que não percebiam o tempo passar. De repente já era noite e o sol foi dormir no leito macio e aconchegante do horizonte.

                        Enquanto brincava e dava asas às fantasias, Aldo contemplava o bailar das borboletas de cores multicores bailando numa linda coreografia, no firmamento. Os pássaros pousavam na laranjeira e cantavam hinos, agradecendo a natureza. No canto do quintal, havia o galinheiro, onde seu Pereira, um galo charmoso, cuidava das esposas penosas.

                        Aldo e todos ali, tinham medo de passar do portão para rua, pois o mundo lá fora era selvagem e perigoso. Tudo era completo no quintal de casa, pois nada contaminava a infância deles. Os pés de frutas, davam sombra e frutas à vontade. A cerca divisória, do quintal do vizinho, feita de arame farpado, agraciava com carrapicho e arranha-gato.

                        As meninas nos vestidos de chita e trança no cabelo, brincavam de casinha, onde confeccionavam bonecas de pano ou de espiga de milho. Com delicadeza feminina, faziam comida de mentirinha, com punhado de barro. No galho da goiabeira, o tico-tico preparava o ninho, para chegada dos filhotes. Tyson, o cachorro de estimação, deitado na sombra do abacateiro, espiava a molecada.  

                        No meio do quintal, havia uma torneira e junto a ela um batedor, onde a mãe lavava roupa e a colocava para quarar, na grama e sob o sol ardente.  À tarde, a mãe de Aldo preparava o lanche com cuscuz e leite para dar para molecada. Aquilo era uma festa danada, pois tudo era feito com muito carinho. O mundo inteiro cabia no quintal. E o quintal era um mundo de fantasia e alegria infantil.  

                        Os meninos de short, sem camisa e descalços se sujavam de terra e adquiriam anticorpos, contra todo tipo de doença. Consulta médica, era para os filhos de uma sociedade, cheia de Mimi e não me toque. Os brinquedos, eram entalhados em madeira, o que aguçava a criatividade. As diversões não vinham prontas.

                        Naquele tempo não havia a tal tecnologia e o amaldiçoado celular, que isola as pessoas e afugenta as crianças do direito de serem criança. A modernidade matou a inocência das crianças e criou verdadeiros monstros. O quintal de hoje, tem o tamanho da tela do celular, onde nada cabe. O mundo virtual não tem a delicadeza e a pureza do mundo do menino Aldo. Isso é lamentável!  

                        Por isso que, de vez em quando, o menino Aldo sentava-se no toco de madeira e buscava na memória, a imagem do quintal, onde cabia o mundo de fantasia do passado. A dança das folhas das árvores, ainda embalavam seus sonhos de menino, onde, um dia, a alegria fez morada. O quintal e o menino, eram inseparáveis amigos.

                        O portão do quintal da casa está fechado. Hoje o lugar é um museu e ao olhar por cima da cerca, vê-se que que lá dentro só há relíquia do mundo de Aldo, que cabia na imaginação e na fantasia das crianças da sagrada Terrinha. O povo preserva tudo aquilo, para que não se apague da memória daqueles que tiveram o privilégio de viverem naqueles anos dourados, que não voltam mais.

                        Enquanto houver um quintal dentro de nós, continuamos a ser crianças felizes!

 

Peruíbe SP, 02 de maio de 2024.

 

 

 

 

 

 

                                        

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