quinta-feira, 3 de maio de 2018

PROPAGANDA: ENTRE O MITO E O MICO


                                    É certo que num país capitalista, o que interessa é o consumo. Antes de tudo, a indústria vê em você, um consumidor em potencial. Para o sistema comercial, não interessa se o produto a ser oferecido é nocivo ou não à sua saúde, se trará ou não resultados positivos no seu dia a dia. Lembre-se que, antes de tudo, você é apenas uma massa de manobra. Por ser um consumidor contumaz, torna-se alvo fácil.

                                               Em nome de um consumismo desenfreado, fabrica-se e vende-se de tudo. Atrás dessa massificação comercial, estão os interesses da indústria nacional e internacional. Todos lucram com produtos benéficos ou maquiados, menos você. Isso se deve a desinformação de quem está comprando e, por conseguinte, consumindo aquilo que é apresentado. Normalmente, a indústria usa os meios de comunicação, para divulgar aquilo que produz e que almejam ser vendido.

                                               Lembro-me que, antes do advento da televisão, eu só tomava conhecimento de algum produto novo no mercado, quando, a pedido de minha mãe, dirigia-me ao “Armazém do Takada”, na “Quitanda do Josias”, no “Bar do Iwai”, no “Bazar do Abraão”, na minha cidade natal. Não havia nos recipientes, que envolviam os produtos, agressividade nos anúncios, quer seja com dizeres ou fotos. Eu, como consumidor, apenas buscava analisar a qualidade. Por ser uma cidade interiorana, tudo era natural, inclusive o que se comprava.

                                               Nos anos setenta, quando a televisão não era colorida e, principalmente, por não dispor de uma tecnologia avançada, os anúncios valorizavam os produtos exibidos. Como poucas pessoas tinham esse aparelho em seus lares, a divulgação de produtos, era muito restrita. Mas, pelo que me lembro do que era exibido na telinha, o foco era o produto e não imagens vãs, que poderiam confundir o telespectador.

                                               Mas com o passar do tempo, tudo mudou. Houve uma propagação daquele meio de comunicação. A televisão foi invadindo os lares simples da minha cidade natal e, por força do progresso, a mudança de comportamento social. Não demorou muito e, com a ajuda de recursos tecnológicos, os produtos anunciados ali, perderam a sua essência e o seu romantismo. Os criadores de propaganda passaram a inserir imagens apelativas, a fim de chamarem a atenção do consumidor.

                                               Aos poucos, ainda na minha infância, vi mulheres seminuas e de corpo escultural lambuzando com creme de beleza, vaqueiros valentes fumando sobre seus alazões, artistas de novela tomando cerveja, atletas famosos conduzindo veículos caríssimos e por aí se vai. Embriagava-me com tudo aquilo, porém, mal sabia que, por traz daquela apelação, havia estudiosos do comportamento humano. Sabiam atingir um público alvo, sem muito esforço.

                                               Hoje, por não ser tão abestalhado, como naqueles tempos pretéritos, tomo conhecimento que existe um estudo chamado “neuromarketing”. Os cientistas procuram estudar o comportamento do cérebro, diante de uma imagem ou de uma mensagem recebida. Debruçados nessa tal pesquisa, na clausura de seus laboratórios, passaram a esmiuçar o cérebro, a fim de entenderem o que se passa na cabeça dos homens e mulheres, bem como, o efeito da propaganda, quando visualizada.

                                               Os cientistas loucos descobriram que o cérebro é dividido em três regiões, quais sejam: neocortex (ligado à razão), sistema repitilico (relacionado aos instintos) e límbico (que processa as emoções). Esse estudo permite que, ao descer no subconsciente da pessoa, a indústria saiba o que consumidor percebe e sente, ao entrar em contrato com o produto a ser consumido. Diante do estudo, notou-se que há quatro mitos sobre o cérebro, quanto à vinculação de anúncios, a saber: 1) sexo vende, 2) fazendo merchandising em programas de televisão é sempre um bom negócio, 3) imagens trágicas desestimulam comportamentos e 4) estatísticas são os melhores argumentos.

                                               Diante do que a indústria capitalista produz, do mito descoberto pelos cientistas, em ajuda as empresas de propaganda, só não quero pagar mico, ao consumir aquilo que me é empurrado goela abaixo.

 
Peruíbe SP, 03 de maio de 2018

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