Para começar essa
dissertação, devo confessar que não sou muito adepto ao mundo moderno, pois a
tecnologia às vezes me assusta. As parafernálias descobertas neste século criam
a uma confusão enorme na minha memória. Sei que muitas doenças, até então
desconhecidas e incuráveis, só foram identificadas, graças ao avanço da
medicina e da ciência. Nesse momento, entram os computadores e máquinas
ultramodernos.
É nesse ponto, que acabo me
rendendo ao mundo robotizado de hoje. Quem, por exemplo, nasceu nos anos
dourados, sem violência e onde as doenças eram curadas com plantas ou benzimentos,
tem que se acostumar com o que hora se apresenta. Fui aos poucos e sem querer,
assimilando o comportamento e o linguajar de hoje. Mas esse sacrifício, jamais
vai custar o abandono das minhas origens e tradições.
Creio que as pessoas percebem que
sempre me reporto à minha terra natal, quando falo sobre coisas que marcaram a
minha formação ética e moral. Lá está a argila que moldou a alma e o coração de
uma pessoa simples e, que, embora o mundo tenha tentado corromper, não obteve
êxito. Só Deus sabe a luta que tenho enfrentado para vencer as procelas da
vida. O jardim florido da praça matriz e as ruas descalças da minha cidade
conhecem de cátedra o meu proceder.
Um conterrâneo inspirado e valendo
de recursos modernos, criou um grupo denominado “De volta ao passado”,
isso no tal de zap zap. Venho acompanhando diuturnamente, a conversa dos
participantes. Através do bate-papo descontraído deles, passo a recordar do
nome de pessoas, perdidas na memória. Alguns fatos e lugares pitorescos
transportam-me para os mais remotos e longínquos rincões da minha infância. Deito
no colo da saudade e sonho com tempos que não voltam mais.
Ao vê-los retratar a vida bucólica
do lugar, viajo no tempo e descubro que muitos amigos da infância, tornaram-se
médicos, dentistas, advogados, empresários, fazendeiros, artistas, economistas,
contadores de história e por ai se vai. A música “No dia que sai de casa”,
cantada por Zezé Di Camargo e Luciano, retrata bem o que se passou comigo e com
meus conterrâneos. Disse um trecho da letra: “Sempre ao lado do meu pai, da
pequena cidade, ela (mãe) jamais saiu. Ela me disse assim, Meu filho vai com Deus, que esse mundo inteiro é seu”.
Ganhamos o mundo, estrada a fora.
Desbravamos lugares desconhecidos e viajamos por galáxias dantes navegadas.
Mas, em momento algum, perdemos a nossa essência. A vida modernizou, mas
continuamos firmes e presos à nossa raiz. As coisas simples do sertão
continuaram impregnadas na nossa alma e no nosso coração. Sinto o cheiro do
café no torrador, depois moinho e passado no coador de pano. A comida cozida no
fogão a lenha e as modas de viola fazem de mim um caipira nato.
Mas, ao apreciar as conversas da
turma “De volta ao passado”, trouxe-me uma notícia, deveras triste por demais.
Um dos meus grandes amigos de infância, com quem eu passava tardes e tardes,
assistindo os filmes e desenhos em preto e branco, em companhia dos pais e do
irmão dele, partiu antes do combinado, isso a cerca de dois anos atrás. Isso me
pegou de surpresa e me fez entender, que a infância se transforma em realidade
e que a vida é breve.
As peraltices, as brincadeiras na
rua descalça, as histórias contadas pelos nossos avós, das lendas em noites enluaradas,
o primeiro amor platônico, o badalar do sino na torre da igreja matriz, as
cachoeiras de águas cristalinas, os bailes no terreirão da fazenda, o ordenhar
da vaquinha Mimosa, o latido do cachorro Pitoco, o trote do cavalo pangaré, são
reminiscências do campo, da roça e de uma vida simples e sem maldade.
O meu amigo que se foi, antes do
combinado, deixou doces marcas em mim. Estou certo de que ele foi à frente de
nós, preparar outro lugar tão simples e aconchegante como o da nossa terra
natal. Quando chegarmos lá e isso não tarda, vamos encontra-lo sorrindo para
nos receber. Vamos sentar em torno dele e, num papo descontraído, recordar da
nossa vida campesina.
Peruíbe SP, 10
de abril de 2018.
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