Não sei de quem
herdei o gosto pela escrita, talvez de um antepassado. Creio que se fizer uma
regressão, eu seja da linhagem de Machado de Assis ou Rui Barbosa, talvez. Aos
onze anos, escrevi a primeira poesia, num papel de pão, comprado na Padaria do
Toshio. De lá para cá, não parei mais... virou uma necessidade... um vício.
Quando no banco escolar, folheei pela primeira vez, as páginas encantadas da
cartilha “Caminho Suave”, fui ao delírio.
De lá para cá, não sei o porquê,
mas virei um devorador de livros e um frequentador assíduo de bibliotecas. O
ato de procurar os livros nas estantes empoeiradas e, depois, folhear página
por página, ler e reler o texto e, por último, resumir em poucas linhas o que
foi absolvido da leitura, era algo prazeroso. Quando os mestres, passavam
trabalhos extraescolares, nós íamos, na maioria das vezes, em grupos à
biblioteca municipal.
Das lembranças daquelas
peregrinações, cujo tempo não apaga, fica a certeza de que estudávamos com mais
afinco. O aprendizado vinha da persistência e não da decoração do que se lia.
Por isso, até hoje, consigo lembrar com suavidade, aquilo que absolvi na
infância. Por outro lado, professores abnegados, não mediam esforços, no
sentido de transmitirem seus conhecimentos e experiências de vida. Admirava
neles, a paciência em nos ensinar cada sílaba, cada palavra, cada frase ou cada
cálculo matemático.
Hoje, passados tantos anos, vejo
que a caminhada entre o conhecimento, adquirido de forma arcaica e a tecnologia
avançada, existe um grande despenhadeiro. Transpor essa barreira, é um
privilégio de poucos. O mundo passou a ter pressa e, para isso, criaram
facilidades. Tudo está ao alcance dos dedos e, portanto, basta apertar um botão
e tudo se resolve. Não podemos perder de vista, que tudo na vida tem um preço e
que o progresso cobra muito caro.
Os aparelhos modernos, cuja origem
não se sabe de onde veio, invadiram os lares, as empresas e a privacidade das
pessoas. Já há muito tempo, deixamos de pensar e sentir. Conversamos muito
pouco e, quando isso acontece, são feitos através de monólogos. Escrever
frases, com sabor de conhecimento e de cultura, nem pensar. No seu lugar, estão
as abreviações de palavras ou termos chulos e indecifráveis. O nosso vernáculo,
cujo berço vem do latim, está adoecendo aos poucos e tende a ser sepultado na
vala comum do esquecimento cultural.
As notícias, viajam a mil anos
luz. Há um derrame de informações, por isso, não há tempo hábil para saborear o
que se ouve ou que se lê. Por essa razão, creio na necessidade urgente de se
frear ou controlar o uso descabido da cultura digital. Ao meu ver, isso
prejudica sobremaneira a educação nas escolas. A tecnologia, ao invés de se
tornar aliada da educação, tornou-se uma inimiga capital. O tempo urge para que
algo seja feito, antes que seja tarde demais.
Os recursos do “copia e cola”, tão
presentes no sistema de ensino atual, cujo fim é um mistério, levam as novas
gerações, à ignorância total. Não é à toa, que construções desabam, nas mesas
de projetos inacabados; pessoas morrem, nas mesas de cirurgias, onde os
bisturis não se entendem; inocentes vão para o cárcere, diante de condenações
não fundamentadas. Tudo isso, por culpa da educação, alicerçada na base do
“copia e cola”. Bendita é a maldita tecnologia, que não soube separar o
conhecimento real da preguiça cultural.
Acho melhor parar por aqui e,
antes que eu me perca em cansativas delongas. Melhor então, é deletar possíveis
críticas a tecnologia, tão amada e venerada pelos escravos da internet e de
tantos “sites” que ora povoam a mente de cidadãos não pensantes.
O que tem que ser dito, merece que
seja bendito.
Peruíbe SP, 24
de abril de 2018.
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