quinta-feira, 26 de abril de 2018

EDUCAÇÃO: SALVA OU DELETA?


                        Não sei de quem herdei o gosto pela escrita, talvez de um antepassado. Creio que se fizer uma regressão, eu seja da linhagem de Machado de Assis ou Rui Barbosa, talvez. Aos onze anos, escrevi a primeira poesia, num papel de pão, comprado na Padaria do Toshio. De lá para cá, não parei mais... virou uma necessidade... um vício. Quando no banco escolar, folheei pela primeira vez, as páginas encantadas da cartilha “Caminho Suave”, fui ao delírio.

                                   De lá para cá, não sei o porquê, mas virei um devorador de livros e um frequentador assíduo de bibliotecas. O ato de procurar os livros nas estantes empoeiradas e, depois, folhear página por página, ler e reler o texto e, por último, resumir em poucas linhas o que foi absolvido da leitura, era algo prazeroso. Quando os mestres, passavam trabalhos extraescolares, nós íamos, na maioria das vezes, em grupos à biblioteca municipal.

                                   Das lembranças daquelas peregrinações, cujo tempo não apaga, fica a certeza de que estudávamos com mais afinco. O aprendizado vinha da persistência e não da decoração do que se lia. Por isso, até hoje, consigo lembrar com suavidade, aquilo que absolvi na infância. Por outro lado, professores abnegados, não mediam esforços, no sentido de transmitirem seus conhecimentos e experiências de vida. Admirava neles, a paciência em nos ensinar cada sílaba, cada palavra, cada frase ou cada cálculo matemático.

                                   Hoje, passados tantos anos, vejo que a caminhada entre o conhecimento, adquirido de forma arcaica e a tecnologia avançada, existe um grande despenhadeiro. Transpor essa barreira, é um privilégio de poucos. O mundo passou a ter pressa e, para isso, criaram facilidades. Tudo está ao alcance dos dedos e, portanto, basta apertar um botão e tudo se resolve. Não podemos perder de vista, que tudo na vida tem um preço e que o progresso cobra muito caro.

                                   Os aparelhos modernos, cuja origem não se sabe de onde veio, invadiram os lares, as empresas e a privacidade das pessoas. Já há muito tempo, deixamos de pensar e sentir. Conversamos muito pouco e, quando isso acontece, são feitos através de monólogos. Escrever frases, com sabor de conhecimento e de cultura, nem pensar. No seu lugar, estão as abreviações de palavras ou termos chulos e indecifráveis. O nosso vernáculo, cujo berço vem do latim, está adoecendo aos poucos e tende a ser sepultado na vala comum do esquecimento cultural.

                                   As notícias, viajam a mil anos luz. Há um derrame de informações, por isso, não há tempo hábil para saborear o que se ouve ou que se lê. Por essa razão, creio na necessidade urgente de se frear ou controlar o uso descabido da cultura digital. Ao meu ver, isso prejudica sobremaneira a educação nas escolas. A tecnologia, ao invés de se tornar aliada da educação, tornou-se uma inimiga capital. O tempo urge para que algo seja feito, antes que seja tarde demais.

                                   Os recursos do “copia e cola”, tão presentes no sistema de ensino atual, cujo fim é um mistério, levam as novas gerações, à ignorância total. Não é à toa, que construções desabam, nas mesas de projetos inacabados; pessoas morrem, nas mesas de cirurgias, onde os bisturis não se entendem; inocentes vão para o cárcere, diante de condenações não fundamentadas. Tudo isso, por culpa da educação, alicerçada na base do “copia e cola”. Bendita é a maldita tecnologia, que não soube separar o conhecimento real da preguiça cultural.

                                   Acho melhor parar por aqui e, antes que eu me perca em cansativas delongas. Melhor então, é deletar possíveis críticas a tecnologia, tão amada e venerada pelos escravos da internet e de tantos “sites” que ora povoam a mente de cidadãos não pensantes.

                                   O que tem que ser dito, merece que seja bendito.

 

Peruíbe SP, 24 de abril de 2018.

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